SÓ 25% DOS BRASILEIROS SABEM LER E ESCREVER CORRETAMENTE
09 de Setembro de 2003 

 

Um retrato horripilante da educação brazileira: 75% dos brazileiros são analfabetos totais ou incapazes de ler e interpretar um texto de uma única linha.

SÃO PAULO - Apenas 25% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são capazes de ler, entender totalmente o que está escrito e escrever corretamente, enquanto 8% são analfabetos. Outros dois grupos, nos níveis 1 e 2 de alfabetização, são analfabetos funcionais. Embora saibam ler e escrever, não têm como usar esse conhecimento para entender mais de uma frase. São, respectivamente, 30% e 37% da população.

Os dados constam de uma pesquisa realizada com 2 mil pessoas em todo o País pelo Instituto Paulo Montenegro/Ibope em parceria com a organização não-governamental Ação Educativa. Um dos destaques do trabalho, divulgado ontem, é o aumento, entre 2001 e 2003, da presença de mulheres no nível 3, o dos plenamente alfabetizados. Fazem parte do grupo 29% de mulheres e 21% de homens, ante, respectivamente, 28% e 24% em 2001.

Em relação a 2001, o índice de analfabetos caiu de 9% para 8% e o de analfabetos funcionais do nível 1, de 31% para 30%. O percentual de alfabetizados de nível 3 caiu de 26% para 25%, variação que permanece dentro da margem de erro da pesquisa.

"O que explica esses números é o brutal déficit educacional brasileiro. Cerca de 60% da população não teve oito anos de estudo", explica a secretária-executiva da Ação Educativa, Vera Masagão. Para reduzir o analfabetismo funcional, que causa queda de U$S 6 bilhões anuais na produtividade dos brasileiros, ela sugere promover acesso aos livros e dar maior ênfase no ensino à leitura e à escrita.

 

Desejo

Nascida na zona rural de Vitória da Conquista, Bahia, numa família com mais dez irmãos, Alcione Brito Almeida, de 32 anos, cursou apenas até a 2ª série do ensino básico. "Fui trabalhar na roça com meu pai e meus irmãos", conta.
Alcione mudou para São Paulo aos 17 anos. "Só consegui trabalho em casa de família."

Hoje, passados 15 anos, continua trabalhando como doméstica e sabe a falta que faz o domínio da escrita e da leitura. Ela consegue escrever o próprio nome e ler algumas palavras, mas não é capaz de entender um texto de jornal, por exemplo. "Me confundo com as letras e as palavras", diz. "Consigo entender apenas algumas partes, outras tenho de pular. Queria ler livros, saber mais, mas não dá."

 

 Fonte: Tribuna da Imprensa, 09 de Setembro de 2003