BRINCANDO DE OFENDER
22 de Setembro de 2003

Jornalista e candidato a governador do Mato Grosso do Sul, o gaúcho Carlos Marun comenta a campanha difamatória dos Cassetóides&Boiolóides.

 

 

BRINCANDO DE OFENDER

Por Carlos Marun (*)

Existe um ditado que diz que a diferença entre o remédio e o veneno é o tamanho da dose. E penso que esta tal Turma do Casseta e Planeta exagerou na dose. Sim, estou falando desta seqüência de programas que tem tentado ridicularizar os gaúchos, colocando-nos invariavelmente como homossexuais.

Confesso que muitas vezes, em viagens ao sul, me divirto contando as "piadas de gaúcho" que aprendo por aqui. Eu sei que é uma brincadeira e afirmo que nunca me preocupei com isto. Não chego a pensar como o Analista de Bagé, personagem de Luís Fernando Veríssimo, que afirma que homossexuais "não nascem no Rio Grande" e que se eles existem por lá é "fruto das correntes migratórias". Mesmo assim tenho certeza de que o percentual de heterossexuais entre nós gaúchos não é menor do que o existente entre os nascidos em outros estados. Todavia, isto não vem ao caso. O que importa aqui é afirmar que estas brincadeiras já estão começando a incomodar.

Sei que muitos vão me criticar por eu estar admitindo este incômodo, mas eu penso que chegou a hora de esta questão ser tratada de frente e afirmo que estes tais cassetas não passam de um bando de desaforados. Eu há muito tempo adotei como solução não assistir a este programa. Todavia após a apresentação da bela série "A Casa das Sete Mulheres" parece que baixou a pomba gira nesta turma e o resultado é que a brincadeira virou ofensa. Não respeitam mais ninguém. Figuras de nossa história estão sendo tripudiadas. Tenho visto gaúchos de fibra e de idade elevada extremamente revoltados com o que está acontecendo. Garibaldi, "o herói de dois mundos", virou "gayribaldi" e se estes bobalhões não sabem, eu informo que chamar o grande Bento Gonçalves de "sento Gonçalves" equivale a cuspir na cara de todo aquele que conhece um pouco da nossa história.

E, além do mais, ninguém ganha nada com isto. Tudo que é demais incomoda e estas brincadeiras já estão ficando completamente sem graça. Na verdade este é mais um dos desserviços que a televisão brasileira tem prestado a nossa população. Que saudade dos tempos em que na nossa TV se fazia humor de forma inteligente. Sempre se fez graça sem que fosse necessário ofender de forma tão grosseira a gente de um estado do nosso país. Isto tem que parar ou depois ninguém deve reclamar se as coisas acabarem mal.

Quando eu era guri, cansei de ouvir a expressão "merecendo apanhar". Naqueles tempos, criança que fizesse uma travessura ou que faltasse com o respeito com alguém sofria algum castigo físico e se chorasse ouvia que apanhou porque "mereceu". Aconteceu comigo algumas vezes. E não eram convocados psicólogos ou terapeutas para analisar o caso. Até porque não tenho conhecimento de alguém que resultasse traumatizado em função de algumas boas palmadas. Ao contrário, penso até que este tipo de "tratamento" tem feito falta nos modernos conceitos de como educar uma criança.

Da minha parte, comunico que dia destes liguei para Porto Alegre e encontrei meu velho pai triste em função destas brincadeiras. Bem, para mim entristecer meu pai equivale a crime hediondo e inafiançável. Isto é coisa de gente que não apanhou quando era pequeno e por isto não aprendeu a respeitar os outros. Gente que está "merecendo apanhar". Por isto eu afirmo peremptoriamente que se um destes mal educados cruzar na minha frente vai se incomodar. Ou vai me bater, ou vai apanhar de mim. E eu não sei se não era o caso de todo o gaúcho que tiver a sorte de cruzar com um deles ter o mesmo procedimento. Afinal, quem ensina é o povo quando afirma que "antes tarde do que nunca".

 

(*) Carlos Marun
Engenheiro e Advogado
Candidato a governador no Mato Grosso do Sul em 2002
[email protected]

 

Publicado em:
Site
Midiamax.com, em 27/Jul/2003
Jornal
Correio do Estado, em 05/Ago/2003