A MENTIRA SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO BRAZIL
09 de Agosto de 2000

 

No último dia 20 foram divulgados os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Seguindo os seus princípios inabaláveis, a imprensa brazileira mais uma vez distorceu e omitiu fatos. Tudo para salvaguardar seus interesses inconfessáveis.

O jornal O Globo, por exemplo, disse que a pesquisa mostra "Um país mais pobre, mas melhor", e também que a pesquisa do IBGE prova que a crise vivida pelo Real nos últimos anos "não foi suficiente para anular os ganhos de renda obtidos após a implantação do Plano". O jornal do Roberto Marinho baseou sua "notícia" nas declarações de Sérgio Besserman, diretor do IBGE e irmão do grotesco apresentador de programa da Rede Globobo conhecido pela palavra "bussunda" (por aí pode-se ter uma idéia da seriedade da "Coisa Brasilis"). O "irmão do bussunda" declarou que entre 1993 e 1999 a renda média dos brazileiros passou de R$ 434 para R$ 525. Declarou também que a concentração de renda diminui de 1998 para 1999 (o índice Gini* caiu de 0,575 para 0,567) e que, mesmo que isso tenha ocorrido porque os ricos perderam mais renda que os pobres é "uma boa notícia" para os brazileiros.

O desmemoriado "irmão do bussunda" e diretor do IBGE cometeu alguns, digamos, "enganos convenientes".

Na ânsia incontrolável de exaltar o "plano real", efetuou a comparação entre 1993 e 1999, sendo que em 1993 este plano econômico ainda não havia sido implantado, o que ocorreu somente em meados de 1994. Não é necessário ser um especialista no assunto para avaliar a credibilidade de tais declarações, basta saber que tratam-se de declarações brazileirescas para se concluir que existe alguma malandragem nesta história.

Comparar com o ano de 1993 não é obra do acaso... Na "Coisa Brasilis" a renda dos trabalhadores é cíclica, uma gangorra com altos e baixos incessantes, perdão, com "menos baixos" e "mais baixos" incessantes. Em 1993 a renda estava "mais baixa", assim, comparando-se com 1999 registrou-se crescimento. Se a comparação tivesse sido efetuada com a renda de qualquer dos anos seguintes o resultado seria bem diferente, veja:

  • 1993: R$ 434,00
  • 1994: o governo de Washington, digo, da "Coisa Brasilis" não efetuou levantamentos neste ano, ou se fez, escondeu.
  • 1995: R$ 561,00
  • 1996: R$ 577,00
  • 1997: R$ 570,00
  • 1998: R$ 565,00
  • 1999: R$ 525,00

Este tipo de engodo sempre foi amplamente utilizado pela imprensa brazileira. Nos últimos meses este fato se tornou bastante visível nas "notícias" sobre o crescimento econômico brazileiro. Como os expurgos e manipulações metodológicas para o cálculo da riqueza produzida já não são suficientes para mascarar a falência econômica brazileira a "imprensa" recorre a subterfúgios como o empregado pelo "irmão do bussunda".

"Fabricam" o crescimento econômico fazendo comparações das mais diversas, até encontrarem uma que apresente "crescimento", que é então divulgada. Por exemplo, fazem comparações com:

  • o mesmo período do ano anterior
  • períodos diferentes do ano anterior ou do atual
  • a média dos últimos 3 anos
  • a média dos últimos 5 anos
  • dados divulgados por outros institutos, mesmo que elaborados com metodologias diferentes e efetuados em épocas diferentes, na "Coisa Brasilis" vale tudo...

... tudo para preservar os interesses inconfessáveis que possuem.

 

Outro "engano" do "irmão do bussunda" é relativo ao índice de Gini*. Se usasse o mesmo critério que usou, mas tomasse as oscilações do índice de Gini de 1989 para 1992 a conclusão seria de que a "Coisa Brasilis" teria se tornado muito mais justa, pois esse índice caiu de 0,630 para 0,571. Ora, isso é absurdo: a queda na concentração  de renda observada do final do governo Sarney para o início do governo Collor não se deve a nenhuma justiça social. A renda cai porque esse é o período de uma grande recessão, em que cai brutalmente o emprego e todos que vivem do trabalho perdem muita renda, no caso, perderam mais também os que ganhavam mais.

De qualquer forma a maior perda de renda dos mais ricos é ilusória, pois os dados elaborados pelo instituto do "irmão do bussunda" não contemplam os ganhos em aplicações financeiras, nas quais os ricos lucram bastante e os pobres praticamente não lucram nada, pois possuem investimentos insignificantemente pequenos ou simplesmente não possuem.

E a inflação? Quem é ingênuo o bastante para acreditar nos índices "oficiais" de inflação empregados nesta pesquisa?

 

No Jornal "O Globo", como vimos, a "pesquisa" do IBGE apresentou crescimento da renda, mas no Jornal Nacional a conclusão foi um pouco diferente, houve perda de renda! Parece que ninguém do Jornal Nacional prestou atenção durante a palestra de apresentação da "pesquisa", feita pelo "irmão do bussunda", tampouco leram direito tal estudo, pois senão teriam percebido o "gancho" preparado e que permitiria a divulgação de "crescimento" da renda...

... Mas isso nos propiciou uma "notícia" deveras interessante, veja na matéria original (abaixo) o esforço descomunal do Jornal Nacional para minimizar a questão da perda de renda. Diluiram o fato dentro de uma grande reportagem falando sobre vários aspectos "positivos" que a tal pesquisa encontrou. As entrevistas com senhoras idosas chegam a ser patéticas... ainda bem que estas senhoras não são funcionárias (figurantes) da própria Rede Globobo.

 

IBGE ANUNCIA O ENVELHECIMENTO DA NOSSA POPULAÇÃO
Jornal Nacional, 20 de julho de 2000

Dona Ilda odeia sujeira. Se pudesse, levaria uma vassoura pra varrer a praça. Seu Jorge nem se importa com isso. O compromisso dele é alimentar os pombos. Os dois já passaram dos 60. São representantes de uma parcela da população que há três décadas não pára de crescer.

Uma pesquisa feita pelo IBGE mostra que entre 95 e 99 a população de idosos no Brasil cresceu 14,5%. Isso significa mais 1,8 milhão pessoas com 60 anos ou mais. Na região Sudeste, onde foi registrado o mais alto grau de envelhecimento, os idosos já são 10% da população.

"Até 2020 o número de idosos e o número de crianças, como parte da população brasileira, será o mesmo", diz Sérgio Besserman, presidente do IBGE. Em cada cem idosos, 55 são mulheres. Que não perdem a vaidade.

"Eu penteio o cabelo, arrumo o cabelo, sabe como é, boto uma roupinha, boto meinha, sapatinho de salto", conta Ignez Lavinas, de 77 anos. "Não existe esse negócio de velhice, nem mocidade, o que vale na gente é ter muita força de vontade pra trabalhar", diz dona Ilda.

Talvez a palavra chave seja atividade: "Alimentação e exercício. O negócio é estar bem com a vida", diz Ivan Peixoto, de 66 anos.

Um conceito que dona Maria Reni, de 82 anos, aprendeu faz tempo. E que aplica no dia-a-dia. "Depois de velha? Não tem passado nem futuro, só tem presente. E amor acima de tudo. Tenho três namorados”, ela conta rindo.

A pesquisa nacional por amostra de domicílios também teve uma notícia ruim. A renda média real dos brasileiros com trabalho caiu 6,2% entre 1989 e 1999.

Mas há uma outra queda que deve ser comemorada. A do índice de crianças de sete a 14 anos que estavam fora das escolas. Em 95, elas eram 9,8%. Ano passado, menos da metade: 4,3%. Por causa disso, o número de pessoas que tinham o segundo grau concluído aumentou de 15,5% para 19%.

 

 

(*) O índice de Gini oscila entre 1 e 0:

  • 1 é a concentração absoluta, toda a riqueza estaria com uma só pessoa
  • 0 é a desconcentração total, todas as pessoas teriam rendas iguais

 

Foram consultados:

  • Oficina de Informações, 21 de julho de 2000
  • Jornal Nacional, 20 de julho de 2000
  • Tribuna da Imprensa, 22 de julho de 2000