EUA TEMEM POBREZA QUE PROVOCAM
E PREPARAM MEDIDAS AGRESSIVAS DE "DEFESA DA 'DEMOCRACIA' "
(Maio de 2000)

Os EUA preparam novas medidas de ingerência sobre os países latino-americanos, por temer que o aumento da pobreza, verificado no continente, desemboque em mudanças de rumo ou revoltas que ameacem seu controle sobre a região.

Sintoma disto, foi o discurso oficial da secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright, na abertura da conferência anual do Conselho das Américas:

"Nos últimos dez anos, os frutos do crescimento não apareceram sobre todas as mesas dos países de nossa região. Enquanto muitas pessoas desfrutam de padrões de vida mais altos, muitas outras continuam atoladas na miséria. E, com freqüência, os programas e as políticas governamentais contribuem para intensificar essas desigualdades". E acrescentou que "a maré democrática na América latina poderia começar a retroceder" sem a solução destas questões.

"Os países poderiam ser novamente atraídos para os beco sem saída das políticas protecionistas e dos governos autoritários", sublinhou Albright.

Traduzindo a linguagem diplomática, os analistas informam que, para o governo norte-americano, a ameaça à democracia residiria na tentação de certos países de buscar projetos próprios, alternativos ao modelo neoliberal, em vigor no continente, sob inspiração e por pressão dos EUA.

Em resumo, ao invés de questionar a falência do modelo, principalmente do ponto de vista social, os EUA pretendem forçar sua manutenção. Vão jogar peso para evitar que as nações latino-americanas identifiquem a origem da crescente pobreza de suas populações na abertura indiscriminada do mercado aos produtos e capitais norte-americanos. Proteger suas economias, para buscar melhorias econômico-sociais, seria um "beco sem saída" para os países pobres, na opinião do departamento de Estado norte-americano. Constituir governos que não se alinhem imediatamente com a política dos EUA constituiria uma ameaça à democracia.

Em nome da "defesa da democracia", os EUA invadiram países, promoveram golpes de Estado (Pinochet, no Chile, Golpe de 64, no Brasil, Videla, na Argentina, etc.) fizeram a Guerra do Vietnam, jogaram bombas atômicas sobre civis no Japão, lembram as mesmas fontes.

Entre as medidas, não estão apenas as de caráter civil, como a idéia da Alca, um maior controle sobre o comércio, a redução do papel do Estado de cada país latino-americano (menos possibilidade de influir na economia de seu país frente a grandes empresas dos EUA), etc. Estão em curso, também, iniciativas militares, entre as quais a presença crescente de tropas e instrutores em países como Colômbia e Bolívia. Muitos acreditam que o combate ao narcotráfico é só uma parte, menos importante, dos objetivos. Há, por exemplo, pressão do governo para que o Congresso dos EUA aprovem uma verba de US$ 1,6 bilhões para a Colômbia, sob a alegação de "combate ao narcotráfico".

Esta prática de que o que lhe serve é justo e democrático e qualquer alternativa é erro e autoritarismo denota um crescendo na prepotência e arrogância da "Grande Nação".

Chama a atenção que a mídia norte-americana e a brasileira dêem as manchetes e as matérias da maneira como o governo dos EUA as quer apresentar: como uma nobre preocupação com a pobreza e a democracia na América Latina.

Fonte: Clube da Notícia, 05 de maio de 2000.