ATENTADO DE LOCKERBIE: QUEIMA DE ARQUIVO FEITA PELA CIA
07 de Fevereiro de 2001

 

Os jornais "The Guardian" e "The Zeit" afirmaram em 1995 que o chanceler sul-africano foi avisado para não viajar no jumbo marcado para explodir. No vôo 103 estavam agentes que voltavam para os EUA com provas sobre o tráfico de drogas operado pela CIA com um braço remanescente do Irã-Contras, registrou em 1992 a revista "Time"

 

Ignorando praticamente tudo o que não foram os "indícios" , "testemunhas" e "provas" fornecidas pela CIA e pelo serviço secreto inglês, os juízes do chamado caso Lockerbie anunciaram como "culpado" o líbio Al-Megrahi e ao mesmo tempo inocentaram o outro, Al-Amin Fahima. O presidente Kadhafi, ao saudar, acompanhado por uma multidão, o recém libertado Fahima, afirmou que a sentença fora ditada "pelos EUA e a Inglaterra". Na explosão do vôo 103 da Pan Am em 1988, morreram 270 pessoas.

O tribunal ignorou as denúncias, de 1995, dos jornais "The Guardian", inglês, e "The Zeit", alemão de que o chanceler sul-africano Pik Botha foi avisado para não viajar no jumbo marcado para explodir. Em 1992, a revista "Time", em matéria de capa, afirmou que a explosão foi encomendada para evitar que viesse a público braço remanescente da operação Irã-Contras, envolvendo um grupo muito especial da CIA - o COREA - que operava junto com a DEA uma rede de tráfico de drogas para os EUA com o narcotra-ficante Al-Kassar, velho integrante da folha de pagamentos do coronel Oliver North e agente duplo. A descoberta do esquema fora feita por um integrante da inteligência militar, o major Charles Dennis McKee, enviado com uma equipe de rambos para Beirute para organizar uma operação de libertação dos reféns americanos. Considerando o "esquema" como uma ameaça à operação que chefiava, e após o silêncio que se seguira ao encaminhar para cima a denúncia, McKee embarcou de volta, mas telefonou para a mãe avisando da chegada. Para dona Beulah, mãe do agente, "sinto que se ele não estivesse a bordo não teria havido a explosão". Junto com McKee voou sua equipe, levando mapas da operação em preparação, provas sobre o tráfico e meio milhão de dólares em dinheiro. Mas não foi só o chanceler Botha que trocou de vôo. Agentes em Moscou também foram avisados para evitar o vôo.

 

LIBIA NEGOU

O governo líbio sempre negou o atentado e inclusive suportou anos de pesadas sanções impostas pelos EUA até o acordo de julgamento em território neutro, na Holanda, ainda que com as leis da Escócia, mas com os acusados sob guarda da ONU. Que proveito teria uma ação cuja realização não pudesse ser capitalizada política e militarmente pela Líbia? Além disso, os grupos islâmicos radicais, quando promovem esse tipo de ataque, fazem questão de toda a publicidade e até brigam pela paternidade.

 

GRAVADOR TOSHIBA

Para a "condenação", os juízes escoceses se valeram de "provas" tão conclusivas quanto o fato de que a Líbia importou 20 mil gravadores cassete da marca Toshiba, igual ao que foi usado no dispositivo que provocou a explosão, mas que poderia também ser comprado em qualquer loja em boa parte do mundo. Consideraram, ainda, como "prova" o fato de a Líbia ter comprado 25 relógios com dispositivo de tempo, o que dizem ter sido o "timer" de acionamento da bomba, mas que a "Time" questionou, dizendo que o que é usado nesses casos é um "timer" do tipo barômetro, porque os vôos no inverno são sujeitos a frequentes atrasos e retenções.

A matéria também relata que os chefes da segurança do aeroporto de Frankfurt, como parte da defesa da Pan Am no processo movido pelas famílias das vítimas, disseram que não existiu nenhuma maleta solitária vinda de Malta para o vôo 103, o que inviabiliza toda a acusação de que Al- Megrahi introduziu em Malta a maleta no avião. Contra ele há ainda o "testemunho" de que foi quem comprou uma camisa e guarda-chuva cujos vestígios foram achados em Lockerbie. Mas, diz a "Time", o vendedor da loja de Malta antes havia "reconhecido um terrorista palestino preso". Sobrou, assim, contra ele, pouco mais do que o passaporte falso que lhe é atribuido e a afirmação da CIA, de que seria "um dos cabeças do serviço secreto líbio".

Também a condenação "à prisão perpétua", mas praticamente concedendo que Al-Megrahi será libertado em "20 anos", por "causa da idade" e por "pagar a pena em um país estrangeiro" são sinais de que a "sentença" é um arranjo, porque se ele fosse mesmo culpado pela morte de 270 pessoas, ainda mais, quase todos militares ou agentes norte-americanos, é improvável que o império não estivesse espumando e querendo pena de morte, trucidamento ou coisa pior.

 

Fonte: Jornal Hora do Povo, 06 de Fevereiro de 2001.