SCHNEIDER DEFENDE  INDEPENDÊNCIA DO RS
29 de Agosto de 2002


Candidato do PSC ao governo tem como principal plataforma uma campanha visando separação do Estado do Brasil


EMPREGO E SEGURANÇA NA PAUTA

JEISON RODRIGUES

Geração de emprego, desenvolvimento e segurança, mesmo estando na ponta da língua dos principais concorrentes, não serão os únicos temas predominantes da campanha eleitoral no Rio Grande do Sul. Pelo menos esse é o desejo de um dos candidatos ao governo, Carlos Schneider (PSC), defensor da autodeterminação política do Estado. Trocando em míudos, ele prega a independência dos gaúchos. Para ser mais claro ainda, o que se convencionou chamar de separatismo. Schneider, porém, conta apenas com o suposto entusiasmo gaudério para promover a discussão e colocá-la na pauta principal.

Com apenas 0,3% das intenções de voto, segundo as pesquisas mais recentes, o representante do PSC, que concorreu a prefeito em Novo Hamburgo, é desconhecido nas outras regiões do Estado. Em entrevista ao ABC Domingo, Schneider falou sobre sua proposta que visa a consolidação da República Riograndense. Esse será o tema central de sua campanha. Mas ele também quer discutir questões como geração de emprego, desenvolvimento e segurança, não ignorando os temas que, pelo menos por enquanto, dominam a pauta. A seguir, os principais trechos da entrevista:

 

ABC Domingo - Além da independência, quais os outros temas que serão tratados como prioritários?

Carlos Schneider - Temos dez pontos básicos. Entre eles estão geração de emprego e renda, turismo, saneamento básico, segurança pública e desenvolvimento econômico. Dentro desses itens, a geração de empregos e postos de trabalho parecem o ponto principal.

 

ABC - Qual a diferenciação exata que o senhor faz entre geração de empregos e postos de trabalho?

Schneider - Postos de trabalho são postos de produção. No caso do emprego, a pessoa pode ocupar um cargo mas não produzir nada. Faço a diferenciação para dizer que precisamos gerar a riqueza, o desenvolvimento econômico. A sociedade como um todo requer ações imediatas. Não podemos trazer multinacionais e dizer que elas vão gerar empregos.

 

ABC - O senhor quer dizer que a busca de investimentos de fora do Estado não é o melhor caminho?

Schneider - Não estou dizendo que não seja o caminho. A maior parte dos postos de trabalho pode ser criada para máquinas. Como aconteceu com a Ford, na Bahia, por exemplo, onde mais de 400 vagas foram preenchidas dessa forma.

 

ABC - Diante disso, qual seria o caminho mais indicado?

Schneider - A área de turismo é uma grande alavanca de ocupação da mão-de-obra excedente. A área de informática também. Temos grandes especialistas neste setor que acabam se transferindo para outros estados e até para o exterior em decorrência da falta de incentivo. Também há a questão da falta de desenvolvimento tecnológico no Estado.

 

ABC - Há uma projeção de quantos empregos o setor de turismo pode gerar?

Schneider - Há uma estatística. Em 1980, de cada 15 postos de trabalho no mundo, um estava localizado no setor de turismo. No final de 2000, já tínhamos três postos, de cada 15. Então, podemos verificar com as escolas, e principalmente com as faculdades, a necessidade de se voltar para esse setor.

 

ABC - E na área de segurança, o que fazer?

Schneider - Isto ninguém resolve da noite para o dia. Existem maneiras de coibir. Agora, todo esse processo inicia na família, que perdeu sua estrutura. A família, muitas vezes, rompe prematuramente. E precisamos trabalhar nesse ponto. Precisamos combater as causas.

 

 

ABC - E as propostas para coibir a criminalidade?

Schneider - A nossa polícia é mal preparada e equipada. Além disso, os policiais recebem pouco. Precisamos de uma corporação com bons salários e bem estruturada.

 

ABC - Seu projeto contempla o municipalismo?

Schneider - Nesse ponto entramos naquilo que será a tônica da nossa campanha, a autodeterminação do Rio Grande do Sul.

 

ABC - Qual a ligação?

Schneider - Se falava muito na nova república e velha república. Temos que criar um novo estado membro. Os grandes países ou quebraram, ou estão quebrando ou vão quebrar. A estrutura política é pesada. A estrutura geográfica, através da defesa das divisas, é dispendiosa. E a centralização do poder desconsidera todo um conjunto de valores regionais. A questão da carga tributária, dos partidos, da segurança, cada região têm realidades diferentes. Então, nós dentro do contexto do território brasileiro, lutar pelo restabelecimento da República Rio-grandense seria criar um estado independente economicamente, com política independente. E o municipalismo é a célula de um estado-membro. É ali que se gera tudo.

 

ABC - O que o senhor propõe é um novo país?

Schneider - Nós queremos discutir essa questão do redimensionamento de um novo estado membro. Na Europa estão buscando um tratado constitucional para uma Europa unificada mas com seus estados-membros independentes. Com países com sua estrutura política, econômica, social e governamental.   

 

ABC - Ou seja, na prática o Rio Grande do Sul seria um novo país, que manteria relações com o resto do Brasil, certo?

Schneider - Não só com o Brasil, mas com Uruguai, Argentina. O que queremos é um estado com estrutura própria. Se isso se chama país, o que queremos é um país.

 

ABC - O Rio Grande do Sul teria um presidente, seria dividido em estados, por exemplo?

Schneider - Sim, teria um presidente. O seu próprio Banco Central, o seu Judiciário. E até sua própria seleção de futebol, quem sabe. Pela nossa proposta, seriam municípios federados ao novo país. Cada município seria um pequeno estado. É um modelo semelhante ao da Suíça.

 

ABC - Qual seria o vínculo com o poder central do Brasil?

Schneider - Queremos pensar globalmente, mas atuar regionalmente. Manter inserido no contexto mundial a nossa condição de estado-membro, mas com as decisões produzidas e geradas aqui. A Assembléia Legislativa pode se transformar num parlamento do país. O próprio Papa disse que era gaúcho. Não disse que era brasileiro. O gaúcho é um símbolo de nacionalidade. Até por questões históricas.

 

ABC - Quais a diferenças entre o movimento que o senhor integra agora e o anterior, liderado por Irthon Marx?

Schneider - A estrutura que o Marx queria elencar era unir os três estados do sul, associados a São Paulo, com o rompimento do Brasil. O meu estado, a nossa estrutura, está aqui dentro. Temos uma vocação histórica sob a tutela de uma única bandeira, que já tem 165 anos, que é a bandeira do Rio Grande do Sul. As divergências começaram por aí. Outro ponto é a forma como isso seria feito. Queremos, reivindicando as condições constitucionais do Brasil, e além disso a carta internacional dos direitos humanos, garantir a liberdade dos povos. O Rio Grande é um povo com identidade, uma nação. É um componente inserido no sul da América com características muito mais semelhantes ao Uruguai, ou sul da Argentina, do que com o norte do Brasil.

 

ABC - E o caminho, no seu entendimento, é o plebiscito?

Schneider - Queremos fazer uma consulta popular, baseada no artigo 68 da Constituição Estadual, regulamentada por lei, que possibilita a população do Rio Grande do Sul a buscar o seu destino, para que possamos resgatar os valores da bandeira do Rio Grande do Sul, que tem 165 anos. E cuja vocação foi sempre ser um estado-membro inserido na América Latina.

 

ABC - Por que o senhor não usa o termo separatismo?

Schneider - Pode suscitar que queremos nos separar do resto do mundo. Não é isso que queremos. Também não queremos nos separar do Brasil. Queremos continuar sendo parceiros do Brasil, mas dentro dessa nova estrutura. Se mandamos, através de impostos, subsídios para outras regiões do Brasil, podemos continuar fazendo isso, mas por aqui, com a certeza de que esses recursos cheguem ao seu destino.

 

ABC - O movimento mais identificado com Irthon Marx foi relacionado com nazismo e fascismo. O senhor não teme que sua campanha também tenha essa conotação?

Schneider - Se isso vier a acontecer, vou dizer que Bento Gonçalves, Onofre Pires, Antônio de Souza Netto, que proclamou a independência da República Riograndense, foram nazistas ou fascistas. Não é eu. Não estamos inventando nada. Só estamos buscando resgatar isso. O país das bombachas é o nosso país, voltado para nossa realidade e nossa estrutura política.

 

ABC - O senhor pode ser considerado o líder do movimento?

Schneider - Temos várias lideranças. Gostaria de fazer uma ressalva. Ninguém queria ingressar em um partido político para defender essa idéia. Ao meu juízo, seria o mais lógico porque ninguém quer fazer um movimento desta envergadura aleatoriamente. Então, encontramos vários partidos e a grande maioria não aceitou os idealizadores dessa causa, com excessão do PSC. Porque o partido contempla em sua cartilha o direito dos povos buscarem a autodeterminação.

 

ABC - Hoje são aproximadamente quantas pessoas envolvidas no movimento?

Schneider - No Rio Grande todo, 6,7 milhões de pessoas. Encomendamos uma pesquisa em 99 e ela apontou que 67% dos gaúchos comungavam com essa idéia. É claro, na direção são poucas pessoas, mas são os líderes, que pensam o movimento.

 

ABC - Mas qual é a estrutura do PSC?

Schneider - O PSC tem cerca de 2000 filiados. Inclusive, o PSC tem uma política interessante. Não aceitamos um político de outro partido com mandato. Não queremos formar uma bancada por pessoas eleitas por outros partidos. Fomos consultados inclusive por deputados. Mas preferimos que eles cumpram seus mandatos pelos partidos que foram eleitos.

 

ABC - Quanto tempo é necessário para organizar e promover o plebiscito?

Schneider - Isso tem um caminho. Primeiro se precisa fazer uma estrutura, uma discussão, uma busca de coletas de assinatura para requerer um referendo. Precisaríamos de 700 mil assinaturas para apresentar uma emenda. Para requerer um plebiscito ao parlamento gaúcho, apenas 1% dos votantes.

 

ABC - Bom, o resto do Brasil ficaria completamente isolado do processo?

Schneider - Quero apresentar um dado: O Brasil destinou dinheiro ao Timor Leste, apoiando sua independência. Em uma obra chamada Paradoxo Global, o autor diz que se quisermos crescer economicamente, globalmente, temos que ser menores. Sob pena de um colapso gigantesco. E ai quem são esses protagonistas gigantescos hoje: Brasil, Rússia, China, os Estados Unidos, o Canadá. No Canadá, aliás, a região do Quebec também busca a autodeterminação, dentro dos métodos que estamos propondo, através de um plebiscito. Nada além disso. Sepultada a idéia, não deu, se abandona o projeto. Só queremos que se respeite a vontade popular.

 

ABC - Ao defender a autodeterminação, o senhor deixa de lado a sucessão presidencial?

Schneider - Não. Ela tem que nos interessar. Nos compete votar enquanto ainda estivermos sob a administração do Brasil. Inclusive nosso partido deve apoiar um dos candidatos a presidente.

 

ABC - O senhor tem índices baixos nas pesquisas e representa um partido pequeno. Como acreditar em vitória?

Schneider - Elencado única e exclusivamente no que o samaritano fez. Ele só tinha os seus apóstolos e fez um trabalho de formiguinha. Não ter uma estrutura política não me preocupa. Além disso, não acredito muito nas pesquisas. Também não tive ainda a possibilidade de dizer o que penso e defendo. Aliás, pela primeira vez essa questão da autodeterminação vai para o debate político em uma campanha.

 

Fonte: Jornal NH (Novo Hamburgo), 25 de Junho de 2002.