
A POLÍTICA DO "BIG STICK"
(*)
Por MANUEL CAMBESES
JÚNIOR (**)
A história das intervenções
dos Estados Unidos na América Latina vem de longa data. Quando
aparece um foco desestabilizador ou um fato social que exija uma
pronta-resposta política, ou qualquer manifestação
que ameace os seus interesses, a resposta, indefectivelmente, é
a aplicação da força para neutralizar a adversidade.
Força que, de modo contumaz, atua de forma indireta através
de mecanismos camuflados que justificam sua presença como,
por exemplo, a luta contra o narcotráfico. Porém,
habitualmente, costumam atuar diretamente passando por cima das
normas do Direito Internacional atropelando, avassaladoramente,
a soberania dos povos.
OCUPAÇÃO DO
PANAMÁ
O Panamá, em 24 de dezembro
de 1989, foi invadido por 24.000 marines que somaram-se aos 12.000
permanentemente estabelecidos, à época, naquele País.
Nesta oportunidade aproveitaram para prender o presidente Manuel
Noriega, conduzí-lo acorrentado a um cárcere na Flórida,
julgá-lo e condená-lo à prisão perpétua.
Guillermo Endara, que possuía vínculos muito estreitos
com os invasores, foi juramentado presidente na base militar norte-americana
de Fort Gulick, na zona do canal.
De um modo geral, a intervenção
direta ou indireta dependerá da gravidade da situação.
O grau de escalonamento da intensidade da força a empregar
será diretamente proporcional à complexidade da conjuntura
que se apresente.
Desde o século da emancipação
datam essas intervenções. Em 1826 quando o prócer
venezuelano Simón Bolivar convocou o Primeiro Congresso Pan-americano
no Panamá, tentou levantar o tema da liberação
de Cuba e de Porto Rico que ainda permaneciam no poder da Espanha.
Porém, as manobras estadunidenses conseguiram boicotá-lo
e o congresso fracassou. A partir de então e durante o restante
do século XIX e de todo o Século XX, as intervenções
militares formam parte da estratégia global dos Estados Unidos.
ANEXAÇÃO DO
TEXAS
O México sofreu enormes
perdas territoriais para ao norte-americanos. A Guerra da Anexação,
a partir de 1846, desencadeou a ocupação do Texas
- área de 690.000 Km2 pertencente ao México desde
1821 - e da Califórnia, com seus 411.012 Km2, na costa do
Pacífico. Pelo Tratado de Guadalupe Hidalgo, assinado em
02 de fevereiro de 1848, os estadunidenses consolidaram, definitivamente,
a anexação destas terras mexicanas ao seu vasto território.
Em 1916, intervieram na República
Dominicana e permaneceram até 1924. Em 1963 voltaram a intervir
naquele País retirando Juan Bosch do poder. El Salvador foi
invadido em 1921. Em Honduras, no ano de 1924, o novo presidente
foi designado a bordo do encouraçado Tacoma. Em 1914, 23000
marines desembarcaram em Tampico, no México. Com sua frota
de cinqüenta navios, apoderaram-se da cidade levando oito milhões
de dólares dos cofres da alfândega. Algo similar fizeram
no Haiti. Em 17 de dezembro de 1914, os marines do cruzeiro Machias
desembarcaram e subtraíram quinhentos mil dólares
do Banco Nacional. Em julho de 1915 voltaram àquele País
onde permaneceram por 19 anos.
Em 1991, a CIA infiltrou-se em
Porto Príncipe para comandar o afastamento do presidente
Aristide.
Em agosto de 1925 as tropas yankees
saíram da Nicarágua depois de treze anos de ocupação;
porém, em dezembro de 1926, desembarcaram novamente com 2.000
soldados para enfrentar Augusto Cesar Sandino.
Nos anos oitenta, se inicia a
invasão silenciosa. O Irangate demonstrou claramente a intervenção
dos Estados Unidos na Nicarágua como supridor de fundos e
de armas dos "contras", utilizando Honduras como base
principal das operações.
Em maio de 1954 aviões
estadunidenses bombardearam as cidades de Porto Barrio e Porto São
José, na Guatemala. Em 17 de abril de 1961, devidamente autorizado
pelo presidente John Kennedy, a CIA organizou a invasão de
Cuba estabelecendo uma cabeça-de-praia na Baía dos
Porcos. A intervenção no Chile e a deposição
do presidente Salvador Allende, em setembro de 1973, é amplamente
conhecida devido aos documentos secretos da ITT, ao informe Covert
Action apresentado ao Senado norte-americano pela Comissão
Church e outros documentos recentemente levantados. Em 25 de outubro
de 1983 os americanos invadiram a pequena ilha de Granada.
PLANO CONTRA COLÔMBIA
A História é testemunha
inconteste das intervenções hegemônicas dos
EEUU, e tudo leva a crer que continuará da mesma maneira
no transcorrer do Século XXI. A implementação
do "Plano Colômbia" e os freqüentes pronunciamentos
de autoridades norte-americanas, sobre a nossa soberania na Amazônia,
certamente merecem uma profunda reflexão.
Diante deste catastrófico
e preocupante cenário cabe-nos a seguinte indagação:
até que ponto a Nação brasileira manter-se-á
imune às demonstrações de violência explícita
dos sobrinhos de "Tio Sam"?
(*) Big stick: expressão
em inglês para designar a "política
estadunidense do grande
porrete", com a qual os estadunidenses "contemplam" seus "aliados"
considerados "incapazes" de tomar as decisões "certas".
(**) O autor é
Coronel-Aviador e chefe da Divisão de Assuntos Internacionais
da Escola Superior de Guerra.
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