ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE
RIO-GRANDENSE
No dia 1º de Dezembro de
1842 foi instalada em Alegrete a Assembléia Constituinte,
depois de duas sessões preparatórias (29 e 30 de Novembro),
nas quais se tratou do exame dos diplomas dos deputados e juramento
depois da missa, no dia 30. O juramento foi o seguinte:
Juro manter
a religião Católica Apostólica
Romana e a independência e integridade do Estado
Rio-Grandense, cumprir fielmente as obrigações
de deputado à Assembléia Constituinte
do mesmo Estado e promover quanto em mim couber a prosperidade
geral da nação; assim Deus me ajude. |
A ata de instalação
da Assembléia Geral Constituinte está vazada nos seguintes
termos:
No dia
primeiro de dezembro do ano de 1842, sétimo da
independência e da república, nesta vila
de Alegrete capital da mesma, achando-se reunidos todos
os Srs. deputados na sala destinada para as sessões
da Assembléia Constituinte, tendo se feito anunciar
S. Exª. o Sr. presidente do Estado pelas
10 horas e meia da manhã, convidado pelo Sr.
presidente da Assembléia (¹), a comissão
nomeada (²) para o introduzir foi recebê-lo
na casa imediata à sala das sessões e
o introduziu nesta, onde S. Exª., depois de tomar
assento no lugar que lhe compete, dirigiu sua fala à
Assembléia, finda a qual se retirou acompanhado
pela referida comissão com as mesmas formalidades
com que fora introduzido. Instalada a Assembléia
pelo Sr. presidente da mesma, veio à mesa o diploma
do Sr. deputado eleito Serafim Joaquim de Alencastre,
e verificada sua legalidade pela primeira comissão
de poderes nomeada na primeira sessão preparatória,
foi o Sr. deputado introduzido por quatro membros da
casa e, depois de haver prestado juramento, tomou assento.
Passando-se à nomeação da nova
mesa foi eleito para presidente em um só escrutínio
com maioria absoluta o Sr. Freitas Pedroso, para vice-presidente
o Sr. França em segundo escurtínio em
que concorreu com o Sr. Chagas por não haver
maioria absoluta na primeira votação,
para 1º secretário o Sr. Alencastre, para
2º dito o Sr. Lemos, e para suplentes os Srs. Ribeiro
Barreto, Jaques, e Sá Brito, empatados em votos,
decidindo a sorte 1º pelo Sr. Ribeiro Barreto,
2º pelo Sr. Sá Brito, 3º pelo Sr. Jaques.
Querendo o Sr. Barreto apresentar com urgência
um requerimento, decidiu a Assembléia por indicação
do Sr. França que se fechasse a presente sessão
e sob a direção da nova mesa se abrisse
sessão extraordinária.
Francisco das Chagas
Martins d'Ávila e Sousa Silvano José
Monteiro de Araújo e Paula Francisco de Sá
Brito |
Também no dia 1º
foi efetuada uma sessão extraordinária, cuja ata foi
assim registrada:
Sendo presentes os Srs. deputados com
a presidência do Sr. Freitas Pedroso veio à
mesa um requerimento do Sr. Ribeiro Barreto, pedindo
se nomeasse uma comissão para com urgência
dar o seu parecer sobre o tópico da fala do Sr.
presidente do Estado pelo qual depositará no
seio da representação nacional os poderes
dsicricionários que lhe foram conferidos, e se
tornasse a sessão permanente até que fosse
apresentado o dito parecer. Pondo o Sr. presidente o
requerimento em votação, foi apoiado,
e somente aprovada a primeira parte. Passou-se a nomear
a comissão para o fim indicado e saíram
eleitos para ela os Srs. Ulhoa Cintra, Sá Brito
e Matos; findo o que levantou o Sr. presidente a sessão.
Hildebrando de Freitas Pedroso Serafim Joaquim
de Alencastre Manuel Martins da Silveira Lemos |
Foi a seguinte a fala do general
Bento Gonçalves da Silva:
Srs. representantes da nação
Rio-Grandense!
Depois da heróica revolução
que operamos contra os opressores da nossa pátria,
depois de uma luta obstinada que por espaço de
sete anos absorve os nossos cuidados, chegou finalmente
a época em que com grande risco se verifica a
nossa reunião exigida altamente pelo voto público.
Meu coração palpita de prazer, vendo
hoje assentados neste venerado recinto os escolhidos
do povo, em que estão fundadas as mais belas
esperanças do nosso país. Eu me congratulo
convosco.
Por decreto de 10 de Fevereiro de 1840 convoquei
uma Assembléia Constituinte e Legislativa do
Estado, mas acontecimentos imprevistos originados pela
guerra em que estamos empenhados, cuja história
não vos é estranha, privaram que se fizesse
a última apuração dos votos.
Um manifesto fiz publicar em 29 de Agosto de 1838,
expondo amplamente os motivos de nossa resistência
ao governo de S. M. o imperador do Brasil, motivos imperiosos
que nos obrigaram a separar da família brasileira.
Se me não é dado anunciar-vos o solene
reconhecimento da nossa independência política,
gozo ao menos a satisfação de poder afiançar-vos
que não só as repúblicas vizinhas,
como grande parte dos brasileiros simpatiza com a nossa
causa.
Mui doloroso me é o ter de manifestar-vos
que o governo imperial nutre ainda a pertinaz pretensão
de reduzir-nos pela força, porém, meu
profundo pesar diminui com a grata recordação
de que a tirania acintosa exercida por ele nas províncias
tem despertado o inato brio dos brasileiros que já
fizeram retumbar o grito de resistência em alguns
pontos do Império.
É assim que seu poder se debilita e se aproxima
o dia em que, banida a realiza da terra de Santa Cruz,
nos havemos de reunir para estreitar os laços
federais à magnânima nação
brasileira, a cujo grêmio nos chama a natureza
e nossos mais caros interesses.
Todavia o que deve inspirar-nos mais confiança,
o que deve convencer-nos de que ao fim triunfarão
nossos princípios políticos, é
o valor e constância de nossos compatriotas; é
ao fim a resolução em que se acham de
sustentar a todo o custo a independência do país.
Debaixo de tão lisonjeiros auspícios
começam os vossos trabalhos, cessa desde já
o poder discricionário de que fui investido pelas
atas de minha nomeação, cumprindo, pois,
as condições com que fui eleito, eu deponho
em vossas mãos.
A primeira necessidade do Estado é uma Constituição
política baseada sobre princípios proclamados
no memorável dia 6 de novembro de 1836. A estabilidade
política interior está ligada com este
grande ato, que há de necessariamente aumentar
a nossa força moral. Bem penetrados da importância
da nossa missão e das circunstâncias excepcionais
em que nos achamos, a vós cumpre decretar os
meios, recursos e elementos com que deve contar o governo
para o bom desempenho das suas funções.
Se julgardes conveniente legislar sobre outros objetos,
lembrai-vos de que a moral pública, a segurança
individual e de propriedade exigem pronta reforma nas
leis que provisoriamente adotamos, pouco adequadas às
nossas atuais circunstâncias.
Senhores representantes da nação Rio-Grandense!
A felicidade e a sorte da República está
hoje em vossas mãos. A prudência, a sabedoria
e a moderação com que vos conduzirdes
durante a vossa missão, acreditará sem
dúvida a nobre confiança que têm
em vós depositada os nossos concidadãos.
Pelas diferentes secretarias de Estado se vos darão
todos aqueles esclarecimentos que tiverdes por bem exigir.
Está aberta a sessão. |
(¹) Era presidente das sessões
preparatórias o vigário apostólico padre Francisco
das Chagas Martins d'Ávila e Sousa, por ter sido o deputado
mais votado, conforme ficou deliberado na primeira sessão
preparatória do dia 29 de novembro.
(²) A comissão destinada
a introduzir no recinto das sessões da Assembléia
o presidente Bento Gonçalves da Silva compunha-se dos deputados
Serafim dos Anjos França, major José Maria Pereira
de Campos, Manuel Martins da Silveira Lemos, Luis Inácio
Jaques, Onofre Pires da Silveira Canto, José Pinheiro de
Ulhoa Cintra, Francisco Modesto Franco e padre Hildebrando de Freitas
Pedroso. Na sessão seguinte, de 2 de dezembro, foi nomeada
a comissão para apresentar o projeto de constituição,
que ficou composta de 5 membros.
Baseado
no livro "A Revolução Farroupilha", de Walter
Spalding. |