"AVANÇA BRASIL", A FLORESTA AMAZÔNICA ENFRENTA O ATAQUE FINAL
17 de Junho de 2001

O jornal britânico The Guardian publica um artigo especial sobre o "Avança Brasil", plano do governo brasileiro para o desenvolvimento da Amazônia que prevê gastos de US$40 bilhões e que, segundo ambientalistas, será o "ataque final e definitivo" contra a floresta.

"Uma equipe internacional de cientistas liderada pelo Dr. William Laurance, do Smithsonian Institute, trabalhando em Manaus, no Instituto Nacional para Pesquisa Amazônica, examina há meses o plano que reúne uma série de projetos com apoio governamental, incluindo 10 mil kms de rodovias, represas, linhas de transmissão de energia, campos de petróleo e gás, canais, portos, concessões para extração de madeira e mineração.

O 'Avança Brasil' vem sendo analisado em ritmo acelerado pelo Parlamento, sem que haja muitas consultas sobre os projetos. Os críticos do plano, incluindo o WWF, temem que este seja o 'ataque final e definitivo' contra a floresta.

Os cientistas usaram o passado para prever o futuro, alimentando um supercomputador com gigabytes de estudos de satélites e outros dados que mostraram como o desflorestamento sempre acompanhou os projetos de desenvolvimento da Amazônia.

Os resultados de sua pesquisa, recentemente publicados na revista Science, chocaram. Dois quintos do que resta ao mundo de floresta tropical estão no Brasil e apenas 14% foram destruídos no século passado. Mas Laurance e sua equipe acreditam que dentro de 20 anos apenas 5% vão permanecer intocados. Mais 42% poderão estar totalmente desflorestados ou muito degradados.

Depois de 20 mil anos sem ser praticamente tocada, e muito menos compreendida, a maior floresta do mundo poderá estar transformada em apenas um geração.

E há mais. Implicitamente o estudo adverte para as mudanças ecológicas que resultarão do projeto e que poderão afetar bilhões de pessoas, até na Europa.

Quando o estudo de Laurance foi publicado o governo brasileiro partiu célere para rejeitar alguns dos dados. A equipe do cientista passou então dez dias rechecando suas informações e o que descobriu foi que suas previsões na verdade tinham sido conservadoras.

O atual governo brasileiro, como os anteriores, nunca soube bem o que fazer com a floresta amazônica exceto desenvolvê-la. No passado, não havia dinheiro, mas agora o financiamento internacional está disponível à medida que aumenta a pressão por parte dos gigantes do agribusiness.

As autoridades dizem que o motor do 'desenvolvimento da infra-estrutura' da Amazônia serão os 10 mil kms de novas 'super-rodovias' planejadas para cruzar a região no lugar dos caminhos abertos na década de 70.

Entretanto, a história mostra que quando estradas para todo tempo são construídas, elas abrem uma caixa de Pandora de mudanças ecológicas, geopolíticas e sociais. Laurance prevê corredores de 100kms de desflorestamento, projetos agrícolas e assentamentos dos dois lados das novas estradas. Quando se constrói uma rodovia no Brasil, inevitavelmente aparecem os colonos, os fazendeiros e as madeireiras, diz ele.

O mais controvertido projeto é a BR-163, uma rodovia de 960 km de Cuiabá para o norte até o porto amazônico de Santarém. Como muitos locais, o vice-prefeito de Santarém, Alexander Wanghon, é a favor da nova estrada, porque ela levará benefícios econômicos e políticos, até transformando a cidade em capital de um planejado novo estado, o Tapajós. Mas ele também teme as conseqüências. 'Será como um furacão, nossa preocupação é controlar a ocupação que se seguirá'.

Fonte: Jornal "The Guardian" (Inglaterra), 13 de Junho de 2001.