BRADO DE ALERTA AOS PAIS
O USO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS INFANTIS COMO FERRAMENTA DE DOUTRINAMENTO IDEOLÓGICO

 

BRADO DE ALERTA AOS PAIS

Entre os objetivos que persegue o Governo da Unidade Popular figura a criação de uma nova mentalidade nas gerações juvenis.

Para cumprir este propósito, próprio de todas as sociedades marxistas, as autoridades que intervêm na educação e na propaganda estão lançando mão de recursos distintos.

Opiniões responsáveis do Governo sustentam que a educação será um dos meios qualificados para lograr aquele propósito; daí que a esta altura estão severamente questionados os métodos de ensino, os textos que utilizam os alunos e a mentalidade de grandes setores do magistério nacional que recusa ser instrumento de conscientização ideológica.

Não deve surpreender que se coloque ênfase em mudar a mentalidade da juventude escolar que por sua escassa formação não pode descobrir o sutil contrabando ideológico a que será submetida.

Não obstante, também se intentam outras vias a nível infantil, cuja expressão mais clara são as revistas e publicações que começou a lançar a Editora do Estado, sob mentores literários chilenos e estrangeiros, em todo caso, de comprovada militância marxista.

Convém frisar que nem sequer se descartam os meios de recreação e entretenimento infantis para impopularizar personagens já consagrados na literatura mundial, e ao mesmo tempo substituí-los por outros modelos impostos pelos peritos em propaganda da Unidade Popular.

Faz já algum tempo que pseudo-sociológicos vêm clamando, em sua arrevezada linguagem, contra certas historietas cômicas e circulação internacional, julgadas funestas pois seriam veículos de colonização intelectual para aqueles a quem foi dirigido seu conteúdo. É natural que tais argumentos tenham sido considerados irrisórios em diversos círculos, e agora se vem recorrer a um expediente análogo com o objetivo de difundir ordens em forma habilmente disfarçada.

É indubitável que uma conscientização realizada de forma grosseira não teria acolhida, nesta epígrafe, entre pais e tutores. Decidiu-se, pois, destilar cuidadosamente um material que traz incluídas algumas idéias propícias para alcançar as metas que persegue.

As crianças recebem, desta forma, uma dose de propaganda sistemática desde tenra idade para desviá-los, em outras etapas de sua formação, aos caminhos do marxismo.

Também se quis aproveitar as revistinhas infantis para que os pais recebam um doutrinamento ideológico, para o qual se inclui nelas suplementos especiais para os adultos.

Ilustra os procedimentos marxistas o fato de que uma empresa do Estado patrocine iniciativas desta espécie, com a colaboração de pessoal estrangeiro.

O programa da Unidade Popular prescreve que os meios de comunicação deverão ter uma orientação educativa. Agora começamos a saber que tal orientação se converte em instrumento para o proselitismo doutrinário imposto na primeira infância sob forma tão insidiosa e dissimulada, que de imediato muitos não vislumbram os reais propósitos que as publicações perseguem.

 


Publicado pelo jornal chileno El Mercurio, em 13 de agosto de 1971 e reproduzido no livro "Para ler o Pato Donald - Comunicação de Massa e Colonialismo" (Editora Paz e Terra, 1980) de Ariel Dorfman e Armand Mattelart.

 

Nota: O editorial acima, publicado pelo jornal "El Mercurio", teve o objetivo de alertar para as práticas "marxistas" que se utilizou de histórias infantis para o doutrinamento ideológico no Chile, entretanto idênticos procedimentos são adotados pelos países ditos "capitalistas". Portanto, o alerta deve ser entendido de forma ampla.