REPÚBLICA DA MENTIRA

A FARSA DAS COMEMORAÇÕES DOS
500 ANOS DE DESCOBRIMENTO

Agosto de 2000

 

"Só pode ser feliz um Estado edificado sobre a honestidade"
Aristóteles

 

O Brazil não pode ser considerado exatamente um país, mas sim a região onde é (ou era) encontrado o pau-brasil, a árvore empregada como tintura por vários séculos. Da mesma forma, brazileiro não é designação de nacionalidade, mas de profissão: eram aqueles que cortavam e comercializavam o pau-brasil, levando esta espécie à quase extinção.

Aquilo que é chamado Brazil, seja lá o que isso significa, possui uma história suigeneris, baseada totalmente na mentira e manipulação dos fatos, do princípio até os dias de hoje. Esta manipulação estarrecedora atualmente está a cargo de uma emissora de TV, que não apenas dita quais e como devem ser registrados os acontecimentos do presente, mas também reescreve os fatos passados de forma a gerar versões convenientes para o presente e para o futuro.

A emissora de TV "encarregada" de reescrever o passado decidiu banir a verdadeira história do descobrimento da América do Sul pelos portugueses, ocorrida no século 14. Mais uma vez mutilaram os verdadeiros acontecimentos históricos para que pudessem realizar as medíocres e patéticas "comemorações dos 500 anos de descobrimento", aliás, mediocridade é uma das especialidades destes elementos.

Para derrubar as mentiras robertomarinhescas e globalizantes, e restabelecer a verdade e retidão dos acontecimentos, relembraremos os verdadeiros fatos e a época em que ocorreu a chegada dos portugueses no continente Sul-Americano, apoiados nas anotações do escritor Assis Cintra.

 


 

D. Diniz, que foi um grande rei, em 45 anos de governo preparara o então jovem reino de Portugal para a conquista dos mares e, com tal objetivo, nas terras de Leiria, fizera plantar uma verdadeira floresta de pinheiros e outras madeiras aproveitáveis nas construções navais. Assim, em 1322 a bandeira portuguesa já tremulava nas naves d'El-Rei. Foi neste ano que a majestade lusa mandou a Genova e Veneza, com amplos poderes para firmar contratos, um dos seus melhores ministros. Destas plagas foram para Portugal marinheiros práticos nas investidas oceânicas, e com eles o fidalgo genovez Manoel Peçanho, afamado capitão dos mares italianos. A este, D. Diniz conferiu o posto de almirante de sua frota galharda. Quis, porém, a sorte que ao rei acadêmico não coubesse a glória de desencantar o misterioso Atlântico, conforme fôra o seu desejo. No seu leito de morte pediu ao filho que completasse o trabalho tão auspiciosamente principiado, e fizesse a grandeza e a fama de Portugal no desbravamento dos mares desconhecidos.

D. Affonso, cognominado o bravo, não se esqueceu do pedido paterno. Cercado de homens de grande valor, como o fidalgo Diogo Pacheco, o bispo do porto, e o almirante Peçanho, investu contra o mistério dos mares. O fracasso de várias tentativas não o demoveu de sua idéia.

À expedições sucediam-se expedições. Um dia aportou em Lisboa um dos capitães, Sancho Brandão. Desgarrando-se no "mar do ocidente", castigado por tempestades e impelido por uma corrente misteriosa, o capitão Sancho abordara uma nova terra, habitada por homens nús e opulenta em árvores de tinta vermelha. Tentara contorná-la, navegando para o norte. Não o pôde, porém descobriu mais ilhas. Carregando consigo alguns homens e algumas produções da terra, Sancho e seus marinheiros velejaram para Portugal, ansiosos para incrustarem na coroa portuguesa a glória do primeiro descobrimento nos mares do ocidente.

Afonso IV batizou a grande ilha com o nome de "Ilha do Brasil", indicando que era o local onde encontrava-se a árvore pau-brasil.

Em 12 de Fevereiro de 1343, como era de praxe, comunicou ao Papa Clemente VI o grande acontecimento, em carta escrita por Montemór-o-Novo. E assim se expressou:
 
  

Diremos reverentemente à Vossa Santidade que os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas ilhas do ocidente...  dirigimos para ali os olhos do nosso entendimento e, desejando pôr em execução o nosso intento, mandamos as nossas gentes e algumas naos para explorarem a qualidade da terra, as quais, abordando as ditas ilhas, se apoderaram, por força, de homens, animais e outras coisas e as trouxeram com grande prazer aos nossos reinos.

 

Juntou-se à carta um mapa da região descoberta e nele se vê a inscrição: "Insula de Brasil". Desde então os portugueses monopolizaram o comércio do pau-brasil. Tanto assim que, em documentos do século XIV constam os nomes Brasil ligado ao de Portugal. O "Brasil  de Portugal"... diziam os ingleses no fim do século XIV.

No ano de 1380 o vocábulo brasil aparece na Inglaterra em versos:
 
  

He locketh as a sparhawk his eyen
Him nedeth not his colour for to dyen
With Brasil, no with grain, of Portugal

 

E em 1376...
  

... and Brasil of Portugali

 

Os grandes mapas do século XIV, posteriores a 1343, inserem uma ilha no Oceano Atlântico, aproximadamente na posição atual da região nordeste da América do Sul e com uma configuração semelhante à desta. Isso significa que após o ano de 1343 a América do Sul foi explorada pelos portugueses e considerada uma possessão.

Em 1375, Carlos V, então Rei da França, determinou a um cartógrafo de Maiorca que copiasse o mapa português, com ordens de também corrigir e ampliar este mapa com base nas explorações efetuadas entre 1343 e 1375. Neste mapa encontra-se a tal "ilha", onde era encontrado o pau-brasil, com a conformação e posição aproximada da América do Sul.

No mapa-mundi de Ranulf Nyggeden, elaborado em 1360, também contra-se o desenho da América do Sul, citada como ilha.

A América do Sul também aparece em outras importantes cartas cartográficas, como a de Nicolao Zeno (ano de 1380), Bechario (1435) e Andrea Bianco (1436 e 1448). Este último oferece uma explicação que elucida perfeitamente o caso. Diz ele que a "ilha" está distante do Cabo Verde, no mar Atlântico, em cerca de 1500 milhas, ou seja, a atual distância aproximada do Cabo Verde até a região mais oriental da América do Sul.

No mapa de Pero Vaz Bisagudo também apresenta a "ilha" do pau-brasil na distância de 1550 milhas do Cabo Verde. O bacharel João Martim, cosmógrafo  e médico da esquadra de Cabral, em carta ao rei de Portugal, datada de 01 de maio de 1500, indica ao seu soberano procurar o "Mapa Bisagudo", que era muito antigo, diz ele, e onde se encontraria a localização verdadeira da terra na qual Cabral aportara, vejamos o texto original:
 
  

"Quanto, Senor, el sytyo desta terra mande vosa alteza traer um mapamundi que tyene pero vaaz bisagudo e por ahi podra ver vossa alteza el sytyo desta terra, em pero aquel mapamundi non certifica esta terra ser habytada ou no: és mapamundi antiguo."

 

Ou seja, a esquadra de Cabral não apenas estava se deslocando intencionalmente para o ocidente, aniquilando por completo a mentira de que estaria tentando contornar a África para chegar à Índia, como também conhecia a localização da América do Sul, o seu destino verdadeiro.

Em 2 de março de 1450 o Infante de Portugal doou ao fidalgo flamengo Joe van den Berge, natural de Bruges, e vulgarmente conhecido por Jacome de Bruges, umas ilhas açorianas. No documento de doação há uma referência à "ilha", descoberta por Sancho Brandão.

As ilhas Flores e Corvo foram doadas em 1464 à uma senhora de Lisboa, D. Maria de Vilhena. O flamengo Guilherme van den Haagen, em nome da donatária, recebeu o documento de doação. Nesta também há uma referência à "ilha do pau-brasil".

No século XV se encontrava a atual América do Sul referenciada como ilha e com o nome Brasil ou Brandão.
Em alguns mapas do século XIV e XV encontra-se apenas a indicação de "Ilha de Brandam", aplicada à América do Sul. É o que se vê, por exemplo, no mapa de Paulo Toscanelli.

Com o nome "ilha do brasil" aparece no globo terrestre de Martim Behaim, elaborado em 1487 e reproduzido na Alemanha em 1492, antes do "descobrimento da América" (a reprodução é de março e o descobrimento de outubro).

Em 1498, D. Manuel mandou secretamente o capitão Duarte Pacheco Pereira explorar a América do Sul e verificar a sua posição astronômica. Duarte se reporta à D. Manuel nos seguintes termos:
 
 

"E por tanto, bemaventurado Principe, temos sabido e visto como no terceiro ano de vosso Reynado do hano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte oucidental, passando além da grandeza do mar ociano, honde he achada e navegada huma tam grande terra firme com muitas e grandes Ilhas adjacentes e ella que se estende a setenta graaos de Ladeza da linha equinocial contra o polo arctico...  
... por esta costa sobredita do mesmo circulo equinocial em diante por vinte e oyto graaos de Ladeza contra o polo antarctivo he achado nella munto e fino brasil, com outras muitas couzas de que os navios deste Reyno vem grandemente carregados."

 

Ao citar as coordenadas da terra com abundante e fino pau-brasil, Duarte Pacheco não deixa dúvidas que se tratava da América do Sul.

Duarte Pacheco regressou a Portugal e, posteriormente, serviu de guia na viagem de exploração de Pedro Álvares Cabral. Estranhamente (e misteriosamente) os livros de história brasileiros não citam a presença de Pacheco na expedição de Cabral.

Pero Vaz de Caminha em sua carta de 1º de maio de 1500 diz:
 

"... e assy seguimos nosso caminho por este mar, de longo, até terça-feira de oitavas de paschoa, que foram vinte e um dias de Abril, que topamos alguns signaes de terra."

 

Navegar "de longo", no linguajar da época, significava "atravessar". Assim a esquadra de Cabral saiu de Lisboa para atravessar o Oceano Atlântico e não para costear a África ou della se afastar ligeiramente com receio de calmaria, como conta a "história oficial brazileira".

Também cabe ressaltar que em nenhum momento do percurso a esquadra de Cabral foi atingida por tempestades que os impelissem à uma mudança no plano elaborado em Lisboa.