BRAZIL: COLÔNIA DE BANQUEIROS
31 de Janeiro de 2003

Mesmo tendo pago R$ 113 bilhões em juros, a dívida brazileira cresceu R$ 220 bilhões em 2002. Com o dinheiro destes juros poderiam ter sido, por exemplo, construídas 8 milhões de casas populares, que atenderiam 40 milhões de pessoas sem-teto.

 

Brasil fecha 2002 com dívida de R$ 881,108 bilhões - 55,9% do PIB

Superávit não evitou aumento da dívida. Brasil pagou R$ 113 bi de juros

A desvalorização cambial e a elevada carga de juros fizeram com que a dívida líquida do país crescesse R$ 220,241 bilhões, de 2001 para 2002.

O Brasil fechou o ano passado com uma dívida de R$ 881,108 bilhões, o equivalente a 55,9% do Produto Interno Bruto (soma de todas as riquezas produzidas no país).

Em dezembro de 2001, essa dívida estava em R$ 660,867 bilhões (52,6% do PIB).

Nem a economia recorde de R$ 52,364 bilhões - a maior desde 1991 - foi suficiente para cobrir os gastos com juros, que totalizaram R$ 113,978 bilhões (8,43% do PIB) no ano passado. Só em dezembro, o governo desembolsou R$ 17,372 bilhões.

A desvalorização cambial de 52,29% em 2002 contribuiu com R$ 147,225 bilhões no aumento da dívida pública. Além disso, foram reconhecidos naquele ano esqueletos da ordem de R$ 14,286 bilhões.

Em privatizações, no entanto, o governo conseguiu arrecadar R$ 3,637 bilhões. Segundo nota do Banco Central, o estrago só não foi maior na dívida porque a inflação contribuiu para a queda de 10,65% na relação dívida-PIB.

O chefe do Depto. Econômico do BC, Altamir Lopes, afirmou que o crescimento da dívida em 2002 foi 'relativamente pequeno'.

Ele acredita que este número deve fechar o mês no mesmo patamar de dezembro. Se o dólar encerrar janeiro cotado a R$ 3,55, a dívida líquida deverá ficar em torno de 56% do PIB.

Segundo dados do BC, a dívida líquida bruta atingiu R$ 1,132 trilhão (71,9% do PIB) em dezembro de 2002 contra R$ 885,9 bilhões (70,5%) no mesmo mês de 2001.

O professor de economia internacional Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, considerou os números preocupantes. Para ele, a equipe econômica de Luiz Inácio Lula da Silva só dispõe de duas alternativas para evitar que a dívida siga uma trajetória explosiva.

Uma delas é reduzir a taxa básica (Selic), hoje em 25,5% ao ano. A outra é reduzir o percentual da dívida pública - quase metade - atrelada à moeda americana.

'Enquanto não se reduzir os juros e a parcela da dívida atrelada ao dólar, pode botar o superávit onde quiser ou puder que você não garantirá o controle da dívida', disse Gonçalves, referindo-se à elevação da meta de superávit que deverá ser anunciada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, na próxima semana.

O professor lembrou que, no passado, o governo já fez superávits 'gigantescos' e não conseguiu reduzir a dívida.

Gonçalves culpou ainda a rolagem da dívida com swaps cambiais (contratos que rendem a diferença entre a variação cambial e juros pré-definidos) pelo aumento do endividamento em moeda americana.


Fonte: Jornal do Brasil, 31/1.