BRASIL DEMOCRATIZOU AS DROGAS
12 de Julho de 2001

O jornal estadunidense Washington Post, no último dia 8, diz que o Brasil se tornou um dos maiores mercados de drogas, especialmente da cocaína. "Há um novo grave problema no maior país da América Latina: o consumo de cocaína. Antes, o Brasil era principalmente uma escala na rota da cocaína contrabandeada da Colômbia, Bolívia e Peru para os EUA e Europa. Hoje, porém, tornou-se um dos maiores mercados para drogas ilegais", escreve o correspondente do Washington Post Anthony Faiola.

"O grande aumento no consumo brasileiro mudou um importante conceito na questão das drogas: a crença existente na América Latina de que foi a demanda americana que desenvolveu a vasta indústria de drogas nos países onde se cultivam as folhas de coca, transformadas depois na cocaína contrabandeada para o norte.

Recentes pesquisas indicam que aumentou o uso de drogas em outros países latino-americanos, mas é o Brasil que lidera. Estudiosos brasileiros e autoridades americanas estimam que o volume de cocaína e de seus derivados mais baratos no Brasil igualou ou ultrapassou o que é vendido em países desenvolvidos...

Os EUA, com seus 280 milhões de habitantes, são agora o único país a consumir mais cocaína que o Brasil...

Um recente relatório da ONU estimou que cerca de 900 mil pessoas usam cocaína no Brasil ou 0,7 por cento da população. Apesar desse indice estar bem abaixo do consumo americano - cerca de 3 por cento da população, ou 5,3 milhões de pessoas - a nova 'cultura da cocaína' no Brasil deflagrou uma versão ampliada da violência urbana que já foi tão comum em cidades americanas.

O papel do Brasil como um dos principais pontos de embarque da cocaína torna a droga comparativamente barata. Ao longo de suas porosas fronteiras com a Colômbia, Peru e Bolívia, a cocaína custa apenas US$2.000 o quilo. O preço sobe para US$4.000 nas ruas do Brasil urbano, cerca de 20 por cento do preço nas ruas de Nova York.

As favelas brasileiras se transformaram em campos de batalha urbanos dirigidos por 'comandos da droga' que agem como governos alternativos. Eles oferecem aos moradores das favelas segurança, cestas de alimentos e até novos campos de futebol. Também oferecem entretenimento. Nos superlotados bailes de fim de semana, sob a vigilância de jovens carregando fuzis AK-47, a cocaína é abertamente vendida a preços tão baixos como 50 centavos de dólar a dose. Ao mesmo tempo, a indústria da cocaína está infiltrada na política e na economia brasileira.

'A cocaína está contaminando praticamente todos os aspectos de nossa sociedade', diz Argemiro Procópio, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília e um dos maiores experts do país em consumo de drogas. 'Não só estamos vendo um alarmante aumento do consumo de cocaína pelas classes alta e média, como a droga se democratizou até os pobres estão viciados. Não podemos mais ignorar este problema'.

No Rio, um dos maiores centros de cocaína do Brasil, a droga é entregue em casa tão facilmente como uma pizza. A socialite carioca Narcisa Tamborindeguy, em seu livro 'Ai que loucura', conta que 'para conseguir cocaína no Rio, tudo o que você precisa é fazer uma ligação telefônica. As drogas são entregues em casa através de uma espécie de serviço delivery do pó'".

 

Fonte: The Washington Post - EUA, 08 de Julho de 2001