EM 2020 O BRAZIL SERÁ IGUAL A 2003
05
de Janeiro de 2004
Relatório oficial do governo estadunidense aponta que em 2020 Brazil continuará a ser um país pobre e miserável.
Em 2020 País será parecido com o de hoje Daqui a 17 anos o Brasil será muito parecido com o país de hoje: continuará se considerando um fator de influência global sem sê-lo, ainda estará vulnerável à inflação, sua dívida ainda será grande e, embora permaneça como uma voz dominante no continente, não terá conseguido liderar a América do Sul. Além disso, o governo ainda estará tratando de aprovar reformas essenciais, e o custo Brasil continuará minando os esforços do país na tentativa de sair do Terceiro Mundo. O setor privado continuará a demonstrar falta de dinamismo econômico. Este é, em síntese, o retrato do futuro do Brasil segundo o Conselho Nacional de Inteligência (NIC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, que reúne as 14 agências americanas do setor. O grupo é presidido por George Tenet, diretor da CIA (Agência Central de Inteligência). Os traços pouco animadores sobre o Brasil estão no Projeto 2020 do NIC, que deverá ser divulgado esta semana. Trata-se de uma projeção com base em análises de especialistas das 14 agências para auxiliar o governo dos Estados Unidos na política externa. Isso não pretende ser um exercício de previsão ou uma observação através de uma bola de cristal, advertem os coordenadores do estudo, mas sim uma forma de expor as influências mais importantes que darão forma ao nosso mundo até o 2020. Na visão da comunidade de inteligência dos EUA, o Brasil ainda não terá conseguido, daqui a 17 anos, obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas ainda assim continuará a se considerar um participante influente no processo global. Os analistas pintam o Brasil claramente como um país antagônico aos EUA. Isso aparece num trecho: Hoje, com algumas exceções - Cuba, Venezuela e Brasil, por exemplo - os governos da América Latina tendem a ser ambivalentes em relação aos EUA, alternadamente ressentindo a sua influência e procurando a sua cooperação ou, pelo menos, os seus mercados. As iniciativas na área tecnológica também são menosprezadas. Os desenvolvimentos na altamente exaltada indústria farmacêutica do Brasil têm um aspecto mais político, e não motivados pela inovação. Os analistas da CIA e das demais 13 agências de inteligência americana acreditam que, embora a situação econômica do país tenda a melhorar um pouco, o custo Brasil - por si só um problema de governabilidade - continuará a frustrar os esforços para modernizar inteiramente a economia. Além disso, segundo eles, persistirão as guerras fiscais entre estados, os problemas de infra-estrutura dos transportes, e o complexo e pesado sistema tributário. O agronegócio brasileiro é apontado como o fator mais positivo. Mas o tamanho considerável da dívida e a vulnerabilidade do país à inflação continuarão sendo fatores de preocupação. O desalentador retrato do Brasil está num capítulo que se refere especificamente à América Latina como um todo. Ele ocupa 12 páginas dessa radiografia futurística de todo o mundo em 2020. O título da análise do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA antecipa claramente as perspectivas da região: Dois passos adiante, um e meio atrás. Ela afirma que nos próximos 17 anos a América Latina verá algumas melhorias, mas não o suficiente para mantê-la em termos de igualdade com os demais países em desenvolvimento, e muito menos para encarar as suas próprias e sérias necessidades. A região deverá continuar crescendo num nível abaixo do crescimento global, e continuará frágil devido à aversão ao risco por parte dos investidores, ao peso insustentável de sua dívida e a uma mão-de-obra que carece de habilidades e educação para competir, diz a análise. Os atuais planos de integração da região, que o Brasil vem alimentando com entusiasmo, se concretizariam apenas em parte. O êxito econômico do Cone Sul continuará a ser inconsistente e inclinado a crises. Fonte: Jornal do Comércio, 23/12/2003 |