FIGUEIREDO FALOU
DO TRÁFICO DE DROGAS E CONTRABANDO NA REDE GLOBO
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"É o dono da opinião pública no Brasil. Faz o ministro das Comunicações. Muda quem ele quiser. No dia em que ele quiser virar contra o governo, o governo cai. Ele brigou comigo porque não dei uma estação de rádio ou uma estação de televisão a ele. Não vou dar porque já tem demais. Vou criar três redes. Criei a Rede Manchete, criei o Sílvio Santos, criei a Bandeirantes". (João Batista de Figueiredo, 1987) |
A veiculação deste trecho das declarações não foi feita com o objetivo de criticar o dono da Globo, mas bajular o Roberto TodoPoderoso Marinho e dizer aos brasileiros que até o Figueiredo sabia que o Marinho manda neles (nos brasileiros).
O presidente das Organizações Globo negou, segundo o jornal "O Globo" e o programa "Fantástico", da Rede Globo de Televisão, que tivesse pedido canal de televisão ou rádio a Figueiredo e também desmentiu que tivesse recebido dos governos militares concessões para operar emissoras, mas Roberto Marinho esqueceu de explicar como a Rede Globo de Televisão, fundada em 1965 - no ano seguinte ao golpe militar (orquestrado pelos norte-americanos) ocorrido no Brasil - pôde iniciar as suas transmissões se ele, Marinho, não ganhou a concessão dos ditadores brasileiros. Vale lembrar que em 1965 as concessões para emissoras de televisão eram privilégio do presidente da república brasileiro, que só fornecia a amigos muito íntimos da ditadura. Ou será que a autorização para o funcionamento da TV do Roberto Marinho veio direito de Washington?
Figueiredo também criticou Leonel Brizola, citando duas supostas conversas sobre a reforma agrária. Brizola disse que esse diálogo não existiu e atribuiu as declarações do ex-presidente a suposto abuso do uísque ou do chope, durante o churrasco, mas segundo o "Fantástico", Brizola declarou que "Figueiredo era muito brincalhão".
Abaixo segue um resumo das declarações do ex-presidente brasileiro Figueiredo publicadas pelo jornal Tribuna da Imprensa:
O que disse Figueiredo
Alguns trechos da conversa do ex-presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo, em depoimento gravado durante um churrasco, em 1987: Sobre o Caso Riocentro - I (conversa com o ex-presidente Ernesto Geisel, na missa pelos 50 anos de casamento do ex-presidente Emílio Garrastazu Médici):"Ele sentou ao meu lado e disse: 'Figueiredo, você tem de apurar o negócio do Riocentro.' 'Não tenho não. Primeiro, porque não sou a Justiça. Eu sou Executivo. Quem vai apurar é a Justiça.' 'Mas tem de punir'. 'Quem vai punir é a Justiça também. Eu não tenho nada a fazer que não seja dar força à Justiça para ter liberdade de apurar e punir os responsáveis'. 'Mas tem de haver um responsável'. 'Mas eu não vou inventar um responsável como o sr. fez com o general D'Ávilla Mello. D'Avilla Mello estava comandando o 2º Exército em São Paulo, mataram ou morreu um camarada, sei lá, nas dependências do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e demitiram o general. Achei uma barbaridade. Porque duvido que o D'Ávilla Mello estivesse metido naquela história. E eu disse: 'Essa injustiça não vou fazer. Não vou procurar um inocente para acusar. Ou provo que o sujeito é culpado e puno, ou então não é'.
Sobre o Caso Riocentro - II (as investigações):"Eu estava na Granja do Torto num sábado de manhã quando recebi telefonema do Heitor de Aquino comunicando o fato. Disse para ele: 'Até que enfim os comunistas fizeram uma bobagem', eu crente que os comunistas tinham posto a bomba no carro. Meia hora depois, telefonaram-me. Não era o Heitor. 'Presidente, há indícios de que foi gente do nosso lado.' Aí, chamei o Walter Pires e mandei abrir o inquérito. (...) Aí, chamei o coronel Job Lorena. Disse-lhe: 'O que você apurar, traga para mim'. Até hoje, não sei qual é a verdade. (...) Aí, começaram a me acusar de ter acobertado. Não acobertei. Qual o interesse que tinha em acobertar? O que queriam era mostrar que o general Medeiros e Newton Cruz tinham mandado colocar a bomba no Riocentro".
Sobre o caso Baumgarten (assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten):"Tanto que, depois, pegaram o Newton (Cruz) como responsável pela morte daquele safado do Baumgarten e apresentaram como testemunha um salafrário que era aquele Polila, que não vale nada. E o general Newton Cruz, um dos sujeitos mais inteligentes que eu conheço, seria um burro que mandou matar o Baumgarten e foi ver matar?" Sobre o relatório Saraiva (documento do adido militar do Brasil em Paris, acusando Delfim Netto de envolvimento num caso de corrupção em que teria ganhado US$ 6 milhões): "O coronel Saraiva mandou para a 2ª Seção do Estado-Maior do Exército um informe dizendo que o Delfim estaria em ligações com o irmão do primeiro-ministro Giscard D'Estaing. E que receberia 10% dos negócios. Mandei dois agentes a Paris para verificar o caso. Não havia nenhuma prova. Cheguei para o presidente Geisel e disse: 'O negócio aqui é 'consta', pode ser verdade ou mentira. E depois o Delfim não é tão burro assim para se expor abertamente'. O Geisel então disse: 'Está bem'. Mas ficou no ar o tal relatório Saraiva. (...) Resultado: o Saraiva não foi a general porque não provou o que disse. E o Delfim está aí".
Sobre o Caso Capemi (irregularidade envolvendo a comercialização da madeira a ser extraída da área inundada pela represa de Tucuruí):"Fizemos uma concorrência para vender a madeira e limpar a área onde seria feita a barragem de Tucuruí. Só uma firma se apresentou - a Capemi - e, por isso, ganhou. Entregamos a um homem sério do Exército: o general (Ademar Messias) Aragão. Dois diretores aproveitaram-se do meu filho (Paulo), que fazia parte de uma firma na qual tinha 50% das ações. O sócio dele fez um negócio com a Capemi, de compra e venda de 100 metros cúbicos de madeira. E tinha de fazer um depósito de 15 milhões. Fez, então, o depósito, sem consultar o meu filho para mostrar que a firma tinha lastro, tinha idoneidade. Mas não existe um documento assinado pelo meu filho. Dois anos, eles tinham entregue só três metros cúbicos de madeira. Aí, o Ricardo foi à firma e disse: 100 metros cúbicos não dá, vamos fazer então 10 metros cúbicos. Depois, o Paulinho obrigou ele (sic) a baixar para três metros cúbicos. Aí, a firma faliu. E acusaram a firma de ter comprado a madeira por um preço abaixo do mercado internacional. E aí era para ter acionado a firma, mas acionaram Paulo Figueiredo, porque era filho do presidente. Chamei o dr. Leitão (de Abreu, ministro da Casa Civil) e disse que verificasse tudo. Leitão (...) afirmou que não havia nada. Mesmo assim, levaram dois anos explorando o episódio".
Sobre o caso Abi-Ackel (ministro da Justiça de Figueiredo, acusado de contrabando de pedras preciosas, que acusava a Rede Globo de ter envolvido seu nome no episódio por vingança):"Aquilo foi uma maldade do Roberto Marinho. A Polícia Federal estava atrás de contrabando de cocaína através de malotes de empresas privadas. E a Rede Globo seria uma delas. Este negócio vazou pelo diretor da Polícia Federal, o coronel Coelho, e o Roberto soube que a Rede Globo seria uma delas. Roberto Marinho, então, fez uma viagem ao estrangeiro com os auxiliares e quando voltou (a PF) fez um espalhafato danado, mandou abrir as malas. Roberto Marinho ficou com raiva, pensando que o Abi-Ackel tinha alguma coisa com isso. Quem estava fazendo era a Polícia Federal. Como o Abi-Ackel aceitou ser advogado (após deixar o governo) de uma firma estrangeira, Roberto Marinho descobriu que essa firma lidava com pedras preciosas. Um advogado americano mandou um documento acusando a firma de contrababando de pedras preciosas. Roberto Marinho botou logo no ventilador e publicou tudo. E o Abi-Ackel ficou naquele negócio: se até o Al Capone teve direito a advogado, por que ele não poderia ser advogado da firma? Ele dizia que não entrara para facilitar o contrabando. E ficou nesse negócio até que a Justiça americana julgou o caso e inocentou a firma e prendeu como estelionatário o advogado que deu o documento para o Roberto Marinho".
Sobre Roberto Marinho:"É o dono da opinião pública no Brasil. Faz o ministro das Comunicações. Muda quem ele quiser. No dia em que ele quiser virar contra o governo, o governo cai. Ele brigou comigo porque não dei uma estação de rádio ou uma estação de televisão a ele. Não vou dar porque já tem demais. Vou criar três redes. Criei a Rede Manchete, criei o Sílvio Santos, criei a Bandeirantes".
Sobre Miro Teixeira (atual líder do PDT na Câmara):"Esse é uma piada, uma brincadeira. Eu botava o Mirinho de castigo, de joelho". (O hoje líder do PDT disse que não dá importância às opiniões de Figueiredo a respeito dele, pois eram adversários, mas "ao que disse de si mesmo, que não engrandece a biografia do ex-presidente).
Sobre Leonel Brizola (presidente nacional do PDT, governador do Rio durante o governo Figueiredo):"O dia em que chegar à Presidência, será o maior ditador que o País já viu, porque ele é um caudilho mesmo. Perguntei-lhe, nas duas vezes em que esteve na minha casa: 'O sr. é socialista?' 'Sou'. 'Quer dizer que o sr. é a favor de uma reforma agrária?' 'Sou'. 'Reforma agrária radical?' 'Radical'. 'No Uruguai ou no Brasil?' 'Aí, o Brizola ficou bravo e, depois, perguntou: 'General, o sr. está brincando comigo?' 'Não. O sr. vem à minha casa e acaba de confessar-me que acaba de vender sua estância em São Borja e comprar outra no Uruguai. Então, o sr. não pode ser socialista no Uruguai. Tem de ser no Brasil. Por isso que o sr. vendeu a sua estância no Brasil para poder defender a bandeira da reforma agrária. Inventou um troço que eu não sei o que é: o socialismo moreno. Deve ser por causa da cor da tez do nosso povo. Ou o sr. acha que o que vai marcar o indivíduo é a cor da pele ou o que o indivíduo tem na cabeça? Não sei o que é socialismo moreno. Eu quero ver, se houver um socialismo no Uruguai, o que o sr. vai fazer". (O presidente nacional do PDT disse que esse diálogo não existiu e atribuiu as declarações do ex-presidente a suposto abuso do uísque ou do chope, durante o churrasco).
Sobre Antônio Carlos Magalhães (atual presidente do Congresso, do PFL da Bahia):"Se houvesse um sistema mundial para medir mau caráter, ele seria a unidade do sistema". Sobre Moreira Franco (candidato do PDS a governador do Rio em 1982):"Não quero falar dele, porque, se tivesse de falar, diria que é uma besta. Safado! Safado! Ordinário! (...) Foi a primeira vez que a Dulce participou de um comício, e o Moreira disse (depois que o povo vaiou as autoridades na concentração): 'Vocês vieram porque quiseram; eu não pedi'" (...) O Moreira, depois de derrotado, veio pedir-me um lugar de ministro'. 'Mas por que?' - perguntei. 'Ah, porque eu só tenho vida política, se tiver algum respaldo...'. 'Não tenho obrigação de lhe dar respaldo nenhum (...)'. 'Mas pelo menos o BNH (antigo Banco Nacional da Habitação), presidente". (O ex-governador do Rio e assessor da Presidência da República não retornou ao pedido de entrevista feito pela reportagem).
Sobre Tancredo Neves (sucessor eleito de Figueiredo, que morreu sem tomar posse):"Não era de nada. Nunca realizou coisa alguma. Só fez politicagem em Minas".
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Fonte: Tribuna da Imprensa, Janeiro de 2000