
A INSTALAÇÃO
DA FORD NA BAHIA
NOTÍCIAS VEICULADAS
PELA IMPRENSA NÃO ALINHADA COM OS "DONOS DO PODER"
SOBRE A INSTALAÇÃO DA MONTADORA DE VEÍCULOS
FORD NA BAHIA 25 de
Julho de 1999
O BODE E A FORD Ontem a festa geral na imprensa era que o presidente
Fernando Henrique tinha batido pé e conseguido reduzir drasticamente
os incentivos para a fábrica da Ford que se instalará
em Salvador. Do jeito que foi anunciada a decisão ficou parecendo
mesmo que tinha sido uma vitória do governo contra ACM e
que o Tesouro não mais financiaria a festa baiana. Ledo engano.
Na verdade tudo foi feito, desde o princípio, para enganar
a imprensa e o digníssimo público.
O governo nada mais fez do que usar neste
episódio a técnica do bode. Pega-se um bode e põe-se
na sala, quando os presentes reclamam que não agüentam
mais a fedentina tira-se o bode e todos respiram aliviados. Pois
foi isso que se fez. Anunciou-se um plano pelo qual, em dez anos,
se doaria para a montadora perto de US$ 7 bilhões, muito
mais que o custo da implantação da indústria.
Quando todo mundo reclamou, até o tucano Mário Covas,
o presidente finge que dá um soco na mesa e reduz a renúncia
fiscal para algo em torno de US$ 1,2 bilhão no período
de vigência da medida.
Nessa segunda modalidade a renúncia
cobre exatamente o custo de implantação da fábrica
que é de pouco mais de US$ 1 bilhão como o BNDES dará
um financiamento adicional de US$ 700 milhões que devem ser
amortizados também em dez anos vê-se que o custo de
implantação será financiado pelo empréstimo,
que por sua vez será pago com a renúncia fiscal e
a fábrica sai de graça. Isso tudo, sem contar com
os incentivos que o governo baiano dará, é claro.
Nessa bagunça toda pelo menos tem de
se dar, pela primeira vez em muitos meses, parabéns ao governo
Fernando Henrique por ter montado uma operação política
bem sucedida. Bem sucedida para ele, que conseguiu iludir a opinião
pública e passar uma imagem de autoridade, quando na verdade
cedeu a tudo que Antônio Carlos e a Ford queriam.
Compilado do Jornal
Tribuna da Imprensa de 22 de Julho de 1999
(Jornalista Mauro Braga)
VERGONHA NA BAHIA Uma das maiores vergonhas dos últimos
tempos foi o acordo que o governo federal fez com a montadora Ford
para que ela se instalasse na Bahia, terra do capo de tutti capi
Antônio Carlos Magalhães.
A Ford, que se instalaria no Rio
Grande do Sul, desistiu da empreitada
depois que o novo governo de Olívio Dutra denunciou o acordo
anterior, feito pelo tucano Antônio Brito, como imoral. A verdade é que perto do que está sendo
feito na Bahia o arranjo sulista pode parecer até draconiano.
Para que a Ford se instalasse em Camaçari,
por pressão de ACM, tudo está sendo dado à
montadora americana. O BNDES, por exemplo, foi forçado a
praticamente doar R$ 1,3 bilhão para a instalação
da fábrica, com juros de 2% ao ano, enquanto nós,
pobres mortais, pagamos em qualquer crediário até
10% ao mês. Além disso, foram dadas isenções
de impostos de importação, de IPI, de imposto de renda
sobre o lucro que a montadora tiver, e mais doação
do terreno para instalação com toda a infra-estrutura,
sem se falar, é claro, que o regime automotivo para o Nordeste
foi mudado para atender ao projeto da empresa.
O impressionante nisto tudo é que nem
se pode condenar a montadora americana por isso. Que empresário
não aceitaria esses benefícios todos, dados de mão
beijada, se lhe caíssem no colo como está caindo para
a Ford? Tem de deixar bem claro que a montadora é uma sociedade
anônima que só tem compromisso com seus acionistas
e, por isso, procura maximizar seus lucros. Se nós lhe abrimos
as pernas, tanto melhor para eles. O indecente é que
o governo para atender aos caprichos de Antônio Carlos tenha
feito o que fez, dando vantagens inimagináveis para a instalação
da fábrica. O pior é que tudo é feito com dinheiro
público, desde o empréstimo propriamente dito do BNDES
até as isenções, que em última análise,
poderiam servir para melhorar as condições sociais
da própria Bahia.
Compilado do Jornal
Tribuna da Imprensa de 01 de Julho de 1999 (Jornalista Mauro
Braga)
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