ÍNDIOS
SÃO ATACADOS PELA POLÍCIA BRASILEIRA 07 de Abril
de 2000
Um batalhão de mais de 200 policiais
militares invadiram a terra indígena Coroa Vermelha e destruíram o monumento construído
pelos Pataxó em memória dos índios massacrados
durante os 500 anos de invasão.
A ação arbitrária da polícia brasileira
ocorreu por volta das vinte e duas horas do último dia 04.
O "Monumento à
Resistência" estava sendo
erguido próximo à cruz de aço inoxidável
colocada pelo governo brasileiro, no dia 17 de março, em
substituição à de madeira, que estava no local
desde a década de 30.
As irregularidades na ação começam
com a própria entrada na área, visto que a polícia
militar não tem competência para atuar em terra indígena.
Nenhuma ordem judicial foi apresentada para justificar a truculência.
Uma barreira policial foi formada para impedir a aproximação
das pessoas que protestavam contra a ação. O cacique Carajá, da comunidade Pataxó, denunciou que foi ameaçado com uma metralhadora.
O monumento seria inaugurado durante a Conferência
Indígena que ocorre na área de Coroa Vermelha entre
18 e 22 de abril. Consistiria em um mapa da América Latina,
desenhado no solo em pedra. Por dentro, os artesanatos indígenas
simbolizariam a ocupação da terra antes da chegada
dos portugueses.
Desde que foram iniciados os trabalhos
de construção do "Monumento à Resistência"
o governo brasileiro tentou impedir a continuidade das obras. As primeiras tentativas foram de intimidação
direta à
comunidade indígena. Na tarde de segunda-feira, dia 3 de
Abril, pessoas ligadas ao Conselho de Desenvolvimento Regional (Conder)
- administradores das obras oficiais -, interpelaram os índios com grosserias e argumentos
esdrúxulos. Diziam os funcionários
do órgão que os índios não poderiam
construir nada no local até o dia 26 de abril. Segundo os
Pataxó eles afirmavam coisas do tipo "até lá
(26/Abril) quem manda aqui
é o governo. Vocês não mandam nada". A placa que identificava o monumento foi pisoteada
com ironia e escárnio.
Na segunda tentativa de intimidação,
funcionários da Prefeitura de Santa Cruz de Cabrália
e do Centro de Recursos Ambientais - CRA, órgão estadual
baiano de meio ambiente, visitaram o Comitê de Preparação
à Conferência Indígena com notificações de embargo. A alegação dos órgãos
públicos é de que se trata de uma área de proteção
ambiental (APA), que careceria de uma autorização
oficial. A argumentação,
entretanto, é totalmente infundada,
já que o direito indígena à terra é
anterior ao direito ambiental. Na verdade, a APA foi ilegalmente
constituída sobre a terra indígena Coroa Vermelha.
Após as primeiras intimidações,
os Pataxó enviaram um documento à Funai e à
Procuradoria da República em Ilhéus informando que
o monumento foi pensado e definido pela própria comunidade
e pediram garantias à construção das obras
já prevendo as ameaças de destruição,
por parte das autoridades locais.
A ação é política.
Os governos estaduais e federal não aceitam o monumento indígena
no local onde pretendem produzir a festa oficial.
As atitudes intimidatórias são
uma amostra de como será truculento o tratamento dos órgãos
públicos brasileiros aos povos indígenas que discordem
do discurso ufanista oficial. As obras construídas pelo governo
federal brasileiro dentro da área violaram o artigo 231,
§ 6º, da Constituição Federal, que exige,
para a realização de tais obras, comprovação
de "relevante interesse público da União, segundo
o que dispuser lei complementar".
A área indígena de Coroa Vermelha
está totalmente invadida por construções realizadas
para os festejos governamentais brasileiros dos 500 anos de "descobrimento"
do Brasil sem Relatório de Impacto Ambiental (Rima). Entretanto
no momento em que os próprios
índios tentaram produzir uma obra que expressasse a sua cultura,
foram violentamente tolhidos.
Informativo REDE
de Cristãos
|