GOVERNO FARROUPILHA REAGE AO AÇOITE
DE NEGROS POR PARTE DOS IMPERIALISTAS BRASILEIROS
No dia 10 de Janeiro de 1839 é divulgado
em Porto Alegre, pelos imperialistas brasileiros, o seguinte aviso:
Ilmo. e Exmo. Senhor,
O regente, em nome do imperador, há
por bem ordenar o seguinte, a respeito dos escravos
que os rebeldes têm armado, e com os quais também
hostilizam as forças imperiais:
- Todo o escravo que for preso e tiver
feito parte das forças rebeldes, será,
logo aí, ou no lugar mais próximo
em que possa ter lugar, correcionalmente punido
com duzentos a mil açoites, por ordem
da autoridade militar ou civil, independentemente
de processos. Depois de assim castigados, serão
remetidos para esta capital, publicando-se seus
nomes e senhores, a fim de que saibam o destino
de seus escravos, e possam dispor deles como lhes
convier, contanto que não revertam à
província do Rio Grande, enquanto não
estiver plenamente pacificada, ao que por si, ou
por seus procuradores, se obrigarão por termo
perante o juiz de direito chefe da polícia
encarregado de fazer a entrega aos que se legetimarem.
- Os escravos que ao tempo da publicação
desta providência fizerem parte da força
armada dos rebeldes, e que, abandonando o seu partido,
se apresentarem ao general em chefe, ou às
autoridades que este designar, ficam anistiados
e isentos de todo o serviço forçado,
e ser-lhes-á passada a carta de alforria,
para ficarem gozando de sua plena liberdade.
E para que não fiquem expostos a reações
e vinganças, ou por alguma funesta casualidade,
a recaírem nas mãos dos rebeldes,
serão à custa do governo transportados
para fora da província.
- Os escravos que se apresentarem, e estiverem
nas circunstâncias da disposição
antecedente, serão avaliados por dois louvados,
um nomeado pelo procurador fiscal ou pelos fiscais
que suas vezes fizerem, e o outro designado a respectiva
Câmara Municipal, ou pelos fiscais desta devidamente
autorizados. Esta avaliação será
feita sumariamente, e V. Exa. expedirá as
precisas ordens para que não deixem de haver
louvados, de que trata o parágrafo antecedente.
Se os escravos pertencerem aos súditos imperiais
fiéis ao seu juramento, ao Trono e à
pátria, ser-lhe-á o preço de
avaliação pago logo que o requererem.
Se, porém, forem estes escravos pertencentes
aos rebeldes, seus colaboradores e protetores, só
terá o sobredito pagamento depois da devida
indenização e da liquidação
final, sendo para esse fim depositados no cofre
da tesouraria provincial as quantias em que forem
avaliados.
Transmitindo a V. Exa. esta ordem do regente em nome
do imperador, espero que se desvelará em adotar
as medidas e fazer todas as diligências que possam
produzir o resultado que delas espera; pelo que lhe
dará toda a publicidade pelos periódicos,
por editais nas cidades, vilas e povoações,
e quaisquer outros meios que oportunamente ocorrerem.
Deus guarde a V. Exa.
Palácio do Rio de Janeiro em 19 de novembro
de 1838.
Bernardo Pereira de Vasconcelos Sr. presidente
da província de São Pedro do Rio Grande
do Sul
Cumpra-se e registre-se. Palácio do Governo
em Porto Alegre, 10 de janeiro de 1838. Brito |
Em represália, o governo da República
Rio-Grandense publicou, com data de 11 de maio de 1839, decreto
em que, depois de fazer várias considerações
em torno do aviso imperial diz:
O presidente da República para
reivindicar os direitos inalienáveis da humanidade,
não consentindo que o livre rio-grandense,
de qualquer cor com que os acidentes da natureza
o tenham distinguido, sofra impune e não vingado
o indigno, bárbaro, aviltante e afrontoso tratamento
que lhe prepara o infame governo imperial, em represália
ao que é provocado, Decreta:
Artigo único - Desde o momento
em que houver notícia certa de ter sido açoitado
um homem de cor a soldo da República pelas autoridades
do governo do Brasil, o general comandante-em-chefe
do Exército, ou comandantes das diversas
divisões do mesmo, tirará à sorte
aos oficiais de qualquer grau que estejam das tropas
imperiais nossos prisioneiros, e fará passar
pelas armas aquele que a mesma sorte designar. |
Baseado no livro "A Revolução Farroupilha",
de Walter Spalding. |