IRTON MARX FALA
DA SUA IDEOLOGIA E DO NOVO SEPARATISMO QUE COMPLETA 10 ANOS
26 de Março de
2000
SANTA CRUZ DO SUL
- Passou despercebida uma data que já está registrada
na História Geral. Falo do dia 18 de fevereiro, marco
inicial do novo separatismo pampeano, organização
que busca tornar independente o Rio Grande do Sul.
Naquele dia, foi dada notícia deste
Movimento, numa mostra do descontentamento sulista com o tratamento
recebido do restante do Brasil, em especial, de parte do governo
federal. Por isso, 18 de fevereiro de 1990 deve ficar na mente das
pessoas como data consagrada a uma resposta diante da discriminação
que nos é imposta pelo Brasil, via governo e por intermédio
da própria Constituição.
Ao ser noticiado o fato, a princípio
houve pouca discussão a respeito. Porém, com a interferência
racista e discriminadora antigermânica de parte da TV
Globo, os acontecimentos tomaram outros rumos. Antes desta
estação interferir no assunto, outros veículos
de comunicação de grandes centros faziam divulgações
com muito respeito. Não se utilizavam de palavreados
ofensivos e nem de malícia jornalística. Bastou
uma reportagem conduzida com o objetivo de destruir o Movimento
para que os rumos dos acontecimentos mudassem.
Em cima de uma matéria programada para
incitar violência de toda ordem contra o meu ideário,
a TV Globo deslocou-se
até Santa Cruz do Sul onde
permaneceu por 48 horas na busca de dados que pudessem gerar polêmicas
contra mim e contra a proposta separatista. Rebuscaram arquivos locais, fizeram perguntas ao
povo e, nada obtendo
que pudesse destruir-me,
apegaram-se ao meu grupamento étnico,
que é germânico. Acabaram envolvendo toda a cidade,
as lojas, as pessoas, as autoridades, a igreja, quando mostraram
na TV, no programa Fantástico, que esta terra é de
descendência alemã e, como tal, o Movimento em si era
coisa de alemão. Em outras palavras, passaram a idéia
de que se discriminava os outros estados, os nordestinos, e que
até o idioma do novo país seria o alemão. Tudo
montado pela equipe da TV Globo do Rio de Janeiro.
Quando foi levado ao ar tal programa, descobri
a existência de um espírito racista anti-germânico
que chegou a me impressionar. A partir daí, sucederam-se
ameaças de morte, tiros em minha casa, seqüestro, quebra
de sigilo bancário, pedradas, agressões verbais via
imprensa - passei a ser chamado de biruta, pífio entre outras
expressões. Até hoje alguns jornais da Capital
tratam-me com desdém, mesmo reconhecendo que pecaram com
atitudes que não discutiam o separatismo em si e, sim,
a minha pessoa física.
A interferência da TV Globo fez com
que a Justiça Brasileira interviesse contra mim e contra
o meu ideário. Promoveram quatro invasões em
minha casa confiscando bens pessoais, da firma e da família.
Na verdade, transgrediram a própria Constituição
do Brasil ao me privarem da liberdade de pensamento sem anonimato.
Fui processado mais de dez
vezes pela Justiça Federal.
Mas nunca curvei-me diante de atos que considerava como "inquisitores".
Em outras palavras, diante da Corte de Justiça do Brasil
eu me assemelhava aos homens que foram julgados no "Tribunal
de Nuremberg". Todos já estavam condenados, o
julgamento era apenas um fato para notícias. E fui
condenado pela Justiça Federal a cumprir três anos
e meio de prisão por supostas práticas racistas contra
os negros. Ora, sempre deixei muito claro que os negros, no
novo país, seriam realmente respeitados e teriam voz ativa,
ao contrário do Brasil, que é racista. Num recurso
impetrado na minha defesa venci,
como venci todos os demais processos sem nunca ter estado diante de um juiz federal. Afinal, como deixei bem claro aos tribunais
brasileiros, "se o
Brasil é indivisível, eu sou indobrável".
Apesar de todas as pressões que sofri,
continuo firme nos meus propósitos. Não desisto
dos meus ideais. Fui arruinado financeiramente, alvo de risos,
de deboches, de matérias jornalísticas cômicas
para ridicularizar-me diante do povo, mas não conseguiram
desestimular-me. Agora, passada uma década desde
o início do Movimento, vemos, finalmente, as pessoas entenderam
a minha proposta. Somente agora vêem que os estados do nordeste
mandam e desmandam no Brasil e pretendem transformar o Rio Grande
do Sul num Estado miserável, levando as nossas fábricas
e riquezas. Até Santa Catarina deseja tirar-nos pra
"trouxas". O governador deste Estado disse que somos
a poluição no Estado barriga-verde.
Desta forma, não adiantou Antônio
Carlos Magalhães chamar-me de "novo Hitler dos
pampas"; Leonel Brizola dizer que tenho "minhocas na cabeça";
Ciro Gomes tachar todos os simpatizantes separatistas de "veados";
o PSB expulsar-me do partido em 1994; os outros partidos tornaram-me
inelegível. Não adiantou muitos santa-cruzenses
formarem o "dossiê do anti-separatismo", nem tentarem
me prejudicar no Fórum, pois estou aí e atentem para
o seguinte fato: todos duvidavam que a esquerda ganhasse as
eleições no Estado, não é mesmo? E
o separatismo, dá para duvidar?
Irton Marx |