A ORIGEM DO RIO GRANDE DO SUL
O Rio
Grande do
Sul é, certamente, o Estado cuja história apresenta maior
número de episódios de lutas e guerras. E essa característica esteve
presente desde os primórdios de sua ocupação. Para entender o porque
desse aspecto, é preciso recuar bastante no tempo, até o final do século
XVII. Por que é então que começam a surgir os
esboços do que será o nosso Estado. Até então, essa região era uma
espécie de terra de ninguém, uma área de dono indefinido, que ficava
entre as possessões portuguesas e espanholas. Ambas as Coroas adotavam
uma política expansionista, e estavam interessadas em ocupar o máximo
possível de território. Portanto, mais cedo ou mais tarde, terminaria
havendo um confronto na área do Rio Grande do Sul, na medida em que, se
uma das potências decidisse fundar um núcleo de colonização, a outra
imediatamente reagiria. E foi o que aconteceu. Dom
Pedro II de Portugal, que foi regente de 1668 a 1683 e rei de 1683 a
1706, decidiu que o Império Português deveria ocupar a margem esquerda
do rio da Prata. E doou, em 1674, duas capitanias
nas terras que estão sem donatários ao longo da costa e até a boca do
Rio da Prata. Essa doação foi confirmada dois anos depois por uma Bula
Papal, que considerava que o Bispado do Rio de Janeiro tinha como
limite no sul o rio da Prata. O passo seguinte na
consolidação da presença lusa no sul do continente foi a fundação da
Colônia de Sacramento. Essa colônia tinha o objetivo de afirmar,
definitivamente, a presença portuguesa na área, e servir como um ponto
de apoio militar. A colônia foi fundada em primeiro
de janeiro de 1680, nas margens do Rio da Prata. Era uma espécie de
ponta de lança da presença portuguesa estava muito afastada de
qualquer outro ponto de colonização lusa no Brasil. Por isso, foi
facilmente capturada pelos espanhóis em agosto do mesmo ano. A
partir de então, portugueses e espanhóis se revezaram constantemente na
posse da Colônia de Sacramento. Os tratados, que determinam sua posse,
se sucedem. E, enquanto isso, os portugueses começam a estabelecer um
novo ponto de apoio na ocupação do território do sul: Laguna, no atual
Estado de Santa Catarina, que foi fundada em 1684 para servir como apoio
para Sacramento. E é a partir de Laguna que vai se iniciar realmente a
ocupação do território gaúcho. Embora a
fundação de Laguna em 1684 seja o marco do início da ocupação
sistemática das terras do sul do continente, isso não significa que,
antes mesmo disso, elas não atraíssem os portugueses por razões não só
políticas (a ocupação da maior faixa possível de território por
Portugal), mas também econômicas. Afinal, o continente do Rio Grande era
rico em gado, uma herança que os jesuítas das Missões haviam deixado:
ao serem desfeitas as comunidades missioneiras, o gado vacum ficou solto
no território gaúcho, e se multiplicou, formando vastos rebanhos. E
era em busca desses grandes rebanhos e também de índios para
escravizar que vinham grupos de exploradores das áreas mais povoadas
localizadas mais ao Norte, como São Vicente (São Paulo). Esses grupos
levavam consigo as informações sobre a abundância de gado no chamado
Continente de São Pedro. E essas informações terminaram por fazer com
que o então governador geral, Rodrigo de César Meneses, escrevesse para o
rei português, afirmando que era preciso mandar povoar toda aquela
fronteira, de cuja capacidade pela abundância e a fartura se pode fazer
uma das maiores povoações da América. A abundância e
a fartura podiam ser grandes, e a ambição portuguesa era, sem dúvida,
ainda maior. Mas a ocupação de tão vasta área de território esbarrava em
uma limitação: a falta de população, de pessoal para enviar para a nova
área. O povoado mais extremo então existente, além da Colônia de
Sacramento, era Laguna que contava com a exígua população de 32
casais. Por isso, a ocupação do Rio Grande começa não
com o envio de colonos, mas com expedições de exploração, captura de
gado e descoberta de rotas. A primeira delas, em 1725, foi liderada por
João Magalhães. Dois anos depois,o grupo liderado por Francisco de Sousa
e Faria estabeleceu o primeiro caminho que liga a Colônia de Sacramento
à Vila de Curitiba.
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