Continuísmo sem credibilidade

O Lula trabalhador é o Lula presidente?

por Hélio Fernandes, jornalista

Lula está cada vez mais alegre, satisfeito, sempre sorridente. Essa imagem corresponde à sua definição: "Sou o maior vendedor de otimismo do mundo". Se isso correspondesse à realidade, que maravilha viver.

Os que não concordam com o presidente são todos pessimistas. Para Luiz Inacio Lula da Silva não existe meio termo, não há lugar para os realistas. A verdade: o Brasil marcha impávido e altaneiro no caminho de outros 500 anos de retrocesso, de atraso, de subserviência.

E Lula, sem qualquer constrangimento, garante: "O Brasil vive o seu melhor momento de credibilidade internacional e auto-estima do povo". Quais são os "critérios" do presidente para medir a auto-estima popular?

E o que é que Lula identifica como "prestígio internacional". Os aplausos que recebe do FMI e dos grandes "investidores", em Washington ou Davos? Na verdade os elogios que o Brasil recebe são tendenciosos, mercenários e planejados. E se dirigem única e exclusivamente à política econômica e financeira. Só mantêm o Brasil como país escravizado. Em 1850, a escravidão só existia nos EUA, em Cuba e no Brasil. Os EUA entrariam em terrível guerra civil, Cuba encamparia os problemas.

Nesse distante 1850 o Brasil tinha 12 milhões de habitantes. Toda a riqueza do País se concentrava nas mãos de 0,5% da população. Sabem o que é 0,5% de 12 milhões? Exatamente 60 mil pessoas. Quer dizer: 11 milhões, 940 mil pessoas se enlameavam na pobreza, e 60 mil se refestelavam na riqueza e na exploração total.

Alguma diferença, proporcional ou global, com a situação de hoje?

Lula continua perdendo ponto, quando fala por falar. Exemplo: "Meirelles fica". Em Davos, tentou conversar sobre a saída dele, não conseguiu ouvintes. O pessoal do FMI, esse então nem passava perto. E Meirelles, bem mandado, e não perdendo oportunidade de mistificar: "Não precisamos mais do FMI, podemos andar sozinhos". Ha! Ha! Ha!

O presidente está cada vez mais deslumbrado e empolgado, considera visivelmente que "antes de mim não houve nenhum desenvolvimento. E depois de mim tudo é desenvolvimento". O presidente parece (ou está mesmo) dominado pelo pensamento único. Só ele é OTIMISTA, todos que o criticam são PESSIMISTAS.

O presidente Lula perdeu a condição de trabalhador que tinha tudo para fazer o País caminhar pela Estrada de Damasco, segue com desenvoltura pelo caminho das pedras. Vai ferindo mãos e pés, recolhendo decepções e frustrações. Mas segue impávido e altaneiro, convencido de que só ele está certo e otimista, todos os outros estão errados e pessimistas.

Agora, Lula, Palocci e Meirelles (nessa ordem, ou é indispensável invertê-la?) se deixam dominar pelo delírio, o delíquio e o desequilíbrio, e dizem, arrogantes, autoritários, mas contraditórios: "O BRASIL QUER SER GRANDE". Não explicam bem o que desejam, mas em muita coisa o Brasil não só é GRANDE, como é o maior do mundo.

1 - Nenhum país tem a "dívida externa" do tamanho da "dívida" do Brasil. E ano depois de ano, pagando juros fabulosos, essa "dívida" vai crescendo cada vez mais. Somos "GRANDES.

2 - Temos a mais impressionante "dívida" interna do Planeta, pagamos juros de 155 BILHÕES DE REAIS em 2004 (em 2005 será muito maior), e naturalmente a "dívida" vai crescendo. Somos "GRANDES" também aí.

3 - Temos um fator que não existe no mundo inteiro, somos os únicos o que chamamos de superávit primário. Num mundo que luta ferozmente por fórmulas novas e criativas, ninguém critica o nosso superávit primário. Outro item em que somos "GRANDES".

4 - Nossas reservas já atingiram o total de 40 BILHÕES de dólares (quase 130 bilhões de reais), exigidos pelos "patrões" internacionais para garantir as "dívidas" e principalmente os juros. Somos "GRANDES" também nesse item, ninguém se compara a nós.

5 - Somos (e vamos continuar) "GRANDES" nos seguintes pontos: desemprego, miséria, saúde, habitação, educação, transporte, escravidão em todos os sentidos da palavra. E a cada dia Lula se parece mais com FHC, o "GRANDE" impulsionador do retrocesso de 80 anos em 8.

PS - Lula não percebeu que está completamente equivocado? Não entendeu que está enterrando o Brasil numa cova cada vez mais funda? Não compreendeu que está parado num sinal que há 2 anos não sai do vermelho?

PS 2 - Quando é que Lula vai decidir que omissão e estagnação representam mais imobilidade, falta de credibilidade e irresponsabilidade?

Fonte: Tribuna da Imprensa, 11/Fev/05, Hélio Fernandes.