OS PODEROSOS CHEFÕES DE BRASÍLIA E A "VEJA"

Laerte Braga *

 

A revista "Veja" se presta a tudo, desde que pago, bem pago e que seus capos entendam que além do dinheiro, as perspectivas de se manter no topo sejam reais. Isso significa dizer que se um líder de esquerda ganhar, digamos, uns trinta milhões na loteria e quiser gastar o dinheiro pagando matéria, hipótese lógico, denunciando toda a sorte de bandidagem do governo, não vai conseguir. Vai pagar, a grana vai acabar e vai ficar por isso mesmo.

"Veja"  é um dos instrumentos mais fiéis das principais quadrilhas que formam o governo de Fernando Henrique Cardoso. Se esculhambou com Jáder Barbalho não significa, necessariamente, que tenha sido por obra e graça de Antônio Carlos Magalhães. O mais provável é que o próprio Planalto tenha "encomendado" a  matéria, no afã de livrar-se de um compromisso pesado, qual seja o de apoiar a candidatura do senador à presidência daquela Casa do Congresso.

É lógico isso. Quem assistiu "O Poderoso Chefão", de Francis Ford Coppolla, além da competente direção e do extraordinário desempenho de Marlon Brando (ACM nunca vai chegar a esse nível) , deve lembrar-se que para além do clube de amigos e inimigos cordiais, volta e meia a coisa desandava e as metralhadoras falavam. "Dormir com os peixes", uma típica expressão mafiosa.

FHC e suas manobras (bobo é quem pensa que ele é bobo) de apoiar Jáder Barbalho (chefe de uma quadrilha de estágio intermediário), sabe que não tem como garantir a candidatura de Aécio Neves para a presidência da Câmara (Aécio é um aborto parlamentar). Sabe que Inocêncio Oliveira tem sua vitória praticamente assegurada. Sabe que Jáder é um desses quadrilheiros sem o menor refinamento e por isso pode causar maiores problemas que ACM na presidência do Senado (até porque Jáder é de uma voracidade primária, ACM, pelo menos, finge que sabe usar garfo e faca).

E, por fim sabe que não pode dizer não e nem sim, aí, manda "Veja" arrebentar com Jáder, abre caminho para Sarney e fica de bem com todo mundo, dando um por fora ao senador paraense. Esse por fora tanto pode ser uma participação maior no governo, como algumas verbas para o Estado (deve haver uma fundação qualquer por lá que recebe dinheiro público e que Jáder controla, logo...) Os eventuais tremores que possam ocorrer não vão abalar o governo, por mais que Jáder se indigne, ou tente se fazer de vítima de um complô, o que, no duro, vai acontecer é apenas um ajuste das placas que compõem o continente chamado Congresso Nacional. Ou seja, briga para inglês ver.

Um eventual desdobramento disso, além da candidatura do ex presidente José Sarney voltar à tona, é o preferido de ACM, para evitar que o tal ajuste demore mais um pouco, seria o de um terceiro nome e Pedro Simon está de olho na briga, mas de longe, pronto para dizer, "se é para o bem de todos, diga aos senadores que eu aceito". Ou um outro, qualquer, mas é por aí que a coisa vai correr. Sarney só entra na briga se tiver certeza que a eleição está ganha de véspera.

A matéria contra Jáder Barbalho (o que menos importa aqui é se é verdade ou não, claro que é) cumpre esse papel e puxa o tapete de ACM que, se não tiver cuidado, pode vir a ser a próxima capa da revista, contando sobre seu império, nos mesmos moldes da que explodiu com Jáder. É claro que ACM é outra história, mas em último caso, está, sem trocadilho, no ocaso. É só esperar para ver.

O que a revista "Veja" fez e vai continuar a fazer é representar os interesses de banqueiros, multinacionais, especuladores e, enquanto FHC for o delegado desses interesses no Brasil, tratar qualquer assunto sob a ótica do dito cujo. Só faz o contrário se os "patrões" tirarem o aval. Não existe, pelo menos por enquanto, sinal disso.

 


(*) O cáustico mineiro Laerte Braga é analista político.

 

Fonte: III Informativo REDE de Cristãos 06/Nov/2000