Orgulho de ser Gaúcho
POR QUÊ O POVO GAÚCHO SE DESTACA DOS DEMAIS?!
O povo daqui se orgulha!
Brasão
da República Rio-Grandense pintado na fachada de uma casa
Orgulho
May (1850): " Todos os gaúchos têm a soberba dos
antigos espanhóis e, em conseqüência das particularidades da vida que
levam, são geralmente apaixonados amantes da liberdade. Cada qual
julga-se uma caballero (no sentido de cavalheiro) e trata o próximo com
a mais requintada cortesia, a fim de ser pelos outros tratado do mesmo
modo. Ao mais pobre-diabo e mesmo aos mendigos, tratam com senhoria. O
estrangeiro que supõe poder tratar um gaúcho com desdém por se julgar
mais rico ou mais importante, cedo ou tarde se arrependerá. O desprezo
manifestado costuma ser castigado com uma boa dose de grosseria, e se
esta não produz resultado, será desventrado a faca. Uma vez porém que
se trate o gaúcho de modo igualitário, ter-se-á nele, em pouco tempo, o
mais fiel e dedicado dos amigos.
Charles Darwin em sua viagem no
Beagle, quando na Bacia do Prata, encontrou gaúchos e o espanto da
descrição é eloqüente: "Nunca vi pessoas mais orgulhosas de seu
trabalho, uma atividade tão simples" .
Para falar-mos aqui do
Rio Grande, Schweidson, descreve perfeitamente a surpresa dos primeiros
colonos judeus que chegavam da Rússia e se instalavam em Filipson em
Santa Maria no século passado: - "Observaram com vivo interesse, que os
gaúchos, mesmo apeados, desassociados dos voluntariosos cavalos,
conservavam ainda assim uma indiscutível altivez e imponência, dando
realce à firmeza e decisão dos passos, o rilhar metálico das esporas. "
. Depois, Schweidson mostra como, pouco a pouco, os colonos iam sendo
atraídos pelos costumes locais e aos poucos, tornavam-se também, para
seu orgulho, gaúchos.
Ética
Merece
particular menção sua insuperável honestidade. Do mesmo modo que nunca
fecha a porta de seu rancho, nunca se lembra de roubar. Se acha algum
objeto perdido, devolve-o infalivelmente caso encontre o legítimo dono.
É conhecido o relato de um gaúcho extremamente pobre que encontrando um
relógio de algibeira viajou dois dias para devolver o objeto achado.
Quando o viajante que era um estrangeiro, quis lhe dar uma gratificação
em dinheiro, pegou da quantia ofertada e lançou-a, ofendido aos pés do
ofertante, ao qual deu as costas voltando para sua casa".
Saint-Hilaire
(1820) nos dá mais uma vez uma idéia desta ética rudimentar
(confirmando a informação acima), nos arredores do povoamento de San
José: "Um dos soldados teve que pedir bois emprestados na vizinhança;
estes foram trazidos por um gaúcho que os ajudou a atrelar e nos deu
conselhos muito úteis. Quando já tínhamos saído da dificuldade, quis
recompensá-lo, mas, enquanto eu procurava uma moeda, o homem
desapareceu com os bois. Entre nós (europeus), numa circunstância como
essa, um homem de classe inferior ficaria esperando que lhe dessem uma
retribuição, e ele a teria pedido, se houvesse demora em oferecê-la."
Coragem
Sobre
o hábito da guerra vale a pena completar a questão com esta observação
de Saint-Hilaire (1822): "Em geral, os homens daqui (Rio Grande do Sul)
são extremamente corajosos(...). Contam-se às centenas seus atos de
bravura. Estão sempre dispostos às mais árduas lutas, mas é difícil
sujeitá-los a uma disciplina regular(...)." Nunca desertam, diz
Saint-Hilaire pela cobardia, mas o fazem freqüentemente quando os
deixam inativos e então retornam aos lares
Liberdade
Saint-Hilaire
(início do século passado, livro Viagem ao Rio Grande do Sul) dá esta
descrição que mencionada agora, parece fanfarronada: - "Chamou-me a
atenção desde minha entrada nessa Capitania, o ar de liberdade de todos
que tenho encontrado e a destreza de seus gestos, livres da languidez
que caracteriza os habitantes do interior do país. Seus movimentos têm
mais vivacidade e há menos afabilidade em suas maneiras. Em uma
palavra: são mais homens."
Em Purple Land, segundo Borges, a
mais completa literatura gauchesca sendo (para este) fundamentalmente
criolla, Hudson (1885) nos dá esta opinião: "(o gaúcho da Banda
Oriental) possui uma liberdade que seria difícil encontrar em qualquer
outra parte do globo. O próprio beduíno não é tão livre, pois rende uma
supersticiosa reverencia a seu xeique."
Nicolau Dreys (1839) no
Rio Grande, nos diz do gaúcho: " (...) sem ordem e sem destino, com o
gosto tão geral de uma vida fácil e de perfeita liberdade.
Sem chefes, sem lei e sem polícia, os gaúchos não tem, da moral social, senão as idéias vulgares."
O
capitão Head da marinha inglesa diz no início do século IXX que o "
Gaúcho vive de privações, mas seu luxo é a liberdade. Fiel a uma
independência sem limites, seus sentimentos são selvagens como sua
vida, são portanto nobres e bons."
O habito alimentar
Saint-Hilaire
(1820) também informa que mesmo em áreas com lagos muito piscosos, os
peixes "são desprezados pelos habitantes da região, acostumados a comer
carne".
Outra informação interessante (do mesmo viajante) sobre
tropas (riograndenses) estacionadas na capitania junto a uma legião de
paulistas: "Os soldados da região acostumaram-se facilmente a tal
regime (assado), que, na verdade, pouco difere de seu modo habitual de
vida; não obstante surgiram doenças devido ao excesso de alimentação
carnívora, principalmente entre os paulistas, mais habituados ao feijão
e farinha, do que à carne".
Processo de agauchamento de outras etnias
Saint-Hilaire também fala no acriollamento (agauchamento) dos filhos dos portugueses para desespero dos pais.
Avé-Lallemant
(1858) aponta o acriollamento de membros de colônia alemã desde 1858
(recentemente Hilda Flores fez um estudo completo dos alemães na Guerra
dos Farrapos). Para Avé-Lallemant, esses alemães demonstram nos campo,
traços de gaucharia, que se destaca no manejo do laço, condução da
tropa e pelo modo de montar. Destaca em S. Leopoldo, alemães aparecerem
montados a cavalo, com elegantes ponchos listrados.
O negro é
figura constante na mitologia gaúcha. Especificamente na lida campeira
o denominador comum (como hoje) era a habilidade no montar a cavalo, no
laço, na boleadeira. Além do uso das armas, é claro. Ele é lembrado
várias vezes na literatura "gauchesca". Simões Lopes Neto com o seu
Negro Bonifácio (1912); o negro do duelo de Martin Fierro de Hernández;
mais recentemente; o Tio Anastácio do poema de Jayme Caetano Braun.
Hudson menciona o respeito por parte dos donos (brancos) em uma fazenda
no Uruguai a um velho negro que tinha sido excelente campeiro no
passado. No Monumento a Pelea em Montevidéu no Uruguai há três gaúchos
em combate. Um deles é um negro
FONTES
ASSUNÇÃO, Fernando. O . El Gaucho, su espacio y su tiempo. Bolsilivros Arca. Montevideo. 1969.
AVÉ-LALLEMANT. Viagem pela Província do Rio Grande do Sul (1858). São Paulo. E. Universidade de são paulo, 1980.
CONDE D"EU. Viagem Militar ao Rio Grande do Sul (Agosto-Setembro 1865). Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1936.
DARWIN, CHARLES. Viagem de um naturalista ao redor do Mundo. Cia. Brasileira editora.
DREYS, Nicolau. Notícia Descritiva da Província de Rio Grande de São pedro do Sul. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1980.
DUMAS, Alexandre. Memórias de Garibaldi. L&PM Editores S/A. Porto Alegre. 1998.
FLORES, Hilda Agnes. Alemães na Guerra dos Farrapos. Coleção História. EDIPUCRS. Porto Alegre. 1995.
HUDSON, Willian Henry. The Purple Land that England Lost. Montevideo. 1885.
ISABELLE, Arsène. Viagem ao Rio da Prata e ao Rio Grande do Sul. Editora Zélio Valverde. Rio de Janeiro. 1949.
LESSA, Barbosa. Rio Grande do Sul, prazer em conhecê-lo.
REVERBEL, Carlos. O Gaúcho. L&PM Pocket. Porto Alegre. 1997.
REVERBEL, Carlos. Maragatos & Pica-Paus. L&PM Pocket. Porto Alegre. 1985.
RODRIGUEZ
MOLAS, Ricardo E. História Social del Gaucho/1. Biblioteca Básica
Argentina. Centro Editor de América Latina S. A . Buenos Aires. 1994.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Martins Livreiro Editor. Porto Alegre. 1987.
SARMIENTO, Domingo Faustino. Facundo - Civilización y Barbarie. 2a ed. Buenos Aires, Colihue,. Col. Literaria LYC. 1983
SCHWEIDSON. Judeus de bombachas e chimarrão. José Olympio Editora. Rio de janeiro.1985.
SEPP, Padre Antônio. Viagem as Missões jesuíticas e Trabalhos Apostólicos. Livraria Martins Editora. São Paulo. 1972.
WHITMAN, WALT. Folhas da Relva. Editorial Juárez. Buenos Aires. 1969.
WEBBER, Jorge Frederico Duarte . Raízes da Canção Engajada, Argentina dos Anos 60 e 70. Tese de Mestrado. UNB. Brasília 1997.