Porto Rico: O sonho de um país
Deysi Francis Mexidor
Havana. 15 de Maio de 2009CONHECI Norma aqui em Havana, durante a reunião ministerial do Bureau de Coordenação do Movimento dos Países Não-Alinhados, da qual participou como chefa da delegação da ilha irmã com o Movimento Independentista Nacional Hostosiano, organização convidada ao evento.
No seu diálogo com o jornal Granma, reconheceu o apoio tradicional que seu país recebe do Movimento dos Países Não-Alinhados, especialmente, "a solidariedade dos cubanos, que sempre tem sido histórica e incondicional. Estar aqui nos dá forças", disse.
O caso de Porto Rico dói. Em 25 de julho próximo, completam-se 111 anos da intervenção ianque nesse território. Os porto-riquenhos são cidadãos estadunidenses desde 1917, quando o Congresso dos EUA decidiu aprová-lo por lei. Porto Rico é um Estado Livre Associado, status que encobre a condição colonial...
Poderia falar da situação atual em seu país?
Porto Rico sofre um dos maiores ataques do governo dos EUA para menoscabar o direito à autodeterminação e à independência. Foi recrudescido o assédio e perseguição ao movimento independentista, o saque de jazidas arqueológicas e recursos naturais, a destruição de nossas possibilidades de autossuficiência alimentícia no setor avícola e na indústria do leite.
Por exemplo, em meio a esta crise econômica, alimentícia, energética que está atingindo o mundo, os porto-riquenhos, por fazermos parte de uma colônia dos EUA, temos uma situação difícil.
Recentemente, a corte federal aumentou o custo do leite que se produz em Porto Rico. Os produtos que se elaboram e se consomem no meu país, são os EUA que determinam o preço, e isso os encarece.
Nossa economia está em função da dos EUA. Existe uma relação desigual e nós não podemos resolver nossos próprios problemas porque todas as instituições respondem aos ditames dos EUA e não aos de Porto Rico.
Também são evidentes as tentativas de destruir o que fica da nossa agricultura, aumentando assim a dependência alimentícia ao mercado estadunidense.
Da mesma maneira, a intervenção do governo federal nos processos eleitorais nacionais é tamanho descaramento. O governo eleito em Porto Rico é uma falácia. Nas eleições de 2004, a corte federal norte-americana sequestrou o resultado das nossas eleições. Nestas últimas que acabam de realizar-se, ao candidato contrário ao de Washington fizeram acusações e foi organizada uma campanha de desprestígio contra ele, que, por certo, não é independentista, mas compareceu nas Nações Unidas e reivindicou o direito de Porto Rico a sua autodeterminação.
Também desprezam e desrespeitam o sistema judicial porto-riquenho, nossas leis... os Estados Unidos podem impor a pena de morte a cidadãos de meu país por atos cometidos em Porto Rico.
Agora mesmo o governo estadunidense se recusou a colaborar com o esclarecimento do assassinato do dirigente independentista Filiberto Ojeda Ríos e com a investigação das agressões de agentes do FBI a repórteres porto-riquenhos.
Quais critérios se debatem hoje em Porto Rico a respeito da descolonização?
No meu país existe um consenso sobre a necessidade da descolonização, mas não sobre a solução final do problema.
Gosto, quando falo deste tema, fazer uma comparação com algo que acontecia na época da escravidão. Naquela época, se o amo perguntava a um de seus escravos se queria ser livre, ele respondia não, porque não podia entender como sobreviveria, ignorava o quê fazer com sua liberdade. Foi a mentalidade que a vassalagem lhe impôs. O mesmo acontece com os que não imaginam como sobreviver sem o "apoio" dos EUA.
Mas também estamos os que lutamos pela independência de Porto Rico, os que queremos que continue fazendo parte do Caribe, e não que seja o filho bastardo e explorado pelos EUA, como dizia, no século 19, Eugenio María de Hostos. E tudo isto tem a ver com o grau de consciência política, e que há que continuar desenvolvendo no meu país.
Neste momento, por exemplo, estamos realizando um trabalho intenso para fazer com que o caso de Porto Rico seja analisado na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Há muitos anos que estamos trabalhando nisso. Atualmente, temos 27 resoluções de apoio no Comitê de Descolonização. Mas, nas condições atuais, vemos mais próximo o dia em que o caso de meu país seja discutido na ONU.
Qual o maior sonho de Norma?
Sem dúvida, a independência de Porto Rico, e mais que um sonho é a aspiração, o sentido das nossas vidas.
E neste sonho-aspiração, como imagina Porto Rico livre?
Amigo de todo o mundo, com justiça social, promulgando a igualdade entre os países, o direito de viver em paz num mundo sem opressão, onde não se imponham aquelas nações que acreditam serem mais poderosas.