COMBATES E BALANÇO
Os combates onde o maior número de homens se enfrentou foram os de Fanfa
(4 de outubro de 1836) e o de Ponche Verde (26 de maio de 1843). Em
Fanfa estiveram
presentes mais de mil homens de lado a lado. Em Ponche Verde foram
2.500 farrapos
e 1.600 legalistas. Esses dois estão, aliás, entre aqueles que
são considerados os principais enfrentamentos da guerra que, por ordem
cronológica, foram os seguintes: Seival, em 10 de setembro de 1836;
Fanfa,
em 4 de outubro de 1836; Rio Pardo, em 30 de abril de 1837; Laguna
(foram na
verdade, dois combates, aquele em que os farrapos tomaram a cidade, em
22 de
julho de 1839, e o de quando as forças imperiais a retomaram, em 15 de
novembro de 1839); Taquari, em 3 de maio de 1840; São José do
Norte, em 16 de junho de 1840; Ponche Verde, em 26 de maio de 1843 e
Porongos,
em 14 de novembro de 1844.
Seival se destacou porque, após a expressiva vitória farroupilha,
os rebeldes se animaram a proclamar a república, iniciando assim uma
nova fase da Revolução, que até então se apresentava
apenas como um movimento rebelde, que reivindicava algumas mudanças na
administração da província. Fanfa, por sua vez, teve triste
resultado para os farrapos: nele foram aprisionados Bento Gonçalves e
outros líderes do movimento. Mas, apesar desse revés, os rebelados
levaram a guerra à frente, conquistando Caçapava, em que a guarnição
local passou para a causa rebelde.
A tomada de Caçapava significou, para as forças imperiais, a
perda de 900 homens e de um importante arsenal, com 15 peças de
artilharia,
mais de 4 mil armas de infantaria e muita munição. E graças
a esse equipamento, foi possível atacar Rio Pardo, onde os
farroupilhas
infligiram às forças legalistas aquele que foi considerado um
dos piores fracassos que as tropas do Império sofreram no Rio Grande.
Nele, os imperiais perderam oito peças de artilharia, mil armas de
infantaria,
os víveres de que dispunham, e tiveram trezentos mortos e feridos e
setecentos
prisioneiros. A derrota foi tamanha que o Marechal Barreto, comandante
militar
da província, respondeu a conselho de guerra devido a ela.
O gesto espetacular seguinte da guerra seria a tomada da cidade de
Laguna,
em Santa Catarina, feita por forças comandadas por David Canabarro.
Embora
os farrapos tenham permanecido apenas alguns meses na cidade, provaram
que podiam
chegar a locais inesperados e realizar operações muito ousadas.
Além de levarem a rebelião a outra província, criando a
República Juliana, os rebeldes se apoderaram, novamente, de muito
equipamento.
Já Taquari foi um combate importante para os legalistas. Bento Gonçalves
então se encontrava sitiando Viamão e percebeu, acompanhando o
movimento das tropas legalistas, que corria o risco de ficar cercado.
Tinha,
portanto, que encontrar uma solução, que permitisse ou derrotar
o inimigo de vez ou passar para a região da Campanha, onde contava com
uma grande vantagem tática: os farrapos controlavam a região e,
além disto, sempre havia o recurso de se fugir para um país vizinho.
Procurando realizar essa manobra, Bento e suas tropas atravessaram o rio
Caí
e enfrentaram as tropas imperiais na margem esquerda do Taquari. Como
não
houve uma derrota das tropas legalistas, ele e seus homens se viram
obrigados
a voltar para Viamão.
A tentativa de tomar São José do Norte, para garantir um porto,
resultou naquele que foi considerado o combate mais sangrento da
guerra. Conta-se
que as ruas da vila ficaram cobertas de cadáveres. Nele, os
farroupilhas
tiveram 181 mortos, 150 feridos e 18 deles foram feitos prisioneiros.
Os imperiais
tiveram 72 mortos, 87 feridos e 84 prisioneiros.
Apesar da violência do evento, ele também é lembrado pelo
gesto cavalheiresco do coronel Antonio Soares Paiva, que comandava a
guarnição
legalista da cidade. Ao término do combate, Bento Gonçalves -
que estava à frente das tropas farrapas - lhe enviou uma mensagem,
dizendo
que se achava sem médico e remédios para seus feridos. O coronel
Paiva, então, lhe mandou um médico e metade dos medicamentos de
que dispunha. Em agradecimento, Bento libertou todos os prisioneiros
legalistas.
Para alguns, o combate de Ponche Verde destacou-se por marcar o início
do fim da Revolução, embora não tenha havido, nele, um
vencedor definido. Mas a revolta seria mesmo enterrada na chamada
"surpresa"
de Porongos, acontecimento cercado de suspeitas. Nele, as forças
republicanas
foram totalmente dispersas e, segundo algumas versões, teria sido
"armado"
entre o general farrapo David Canabarro e o então Barão de Caxias,
com o objetivo de exterminar as tropas negras farroupilhas, formadas
por ex-escravos
que haviam sido libertados para lutar ao lado dos rebeldes.
Segundo essa versão, David Canabarro já estaria negociando a
paz com Caxias, mas um dos pontos polêmicos da questão era o que
fazer com os negros - se voltassem ao cativeiro, poderiam se rebelar;
se fossem
considerados livres, poderiam se transformar em uma força perigosa.
Graças
ao ataque de Porongos, em que os contingentes negros estavam acampados
em separado
dos brancos, ficou resolvida a questão: diz-se que, de cada cem mortos
no campo de batalha, oitenta eram negros.
É impossível precisar o número exato de mortos e feridos
dessa guerra. O historiador Tristão de Alencar Araripe - que defendia
declaradamente o ponto de vista do governo Imperial -, foi autor do
primeiro
livro em que as informações sobre a Revolução Farroupilha
foram sistematizadas, publicado em 1881. Ele, que provavelmente teve
acesso
a documentos oficiais sobre o assunto, pois foi presidente da
província
do Rio Grande do Sul de 1876 a 1877, calculou que morreram, no total,
3.400
homens, sendo que os farrapos perderam quase o dobro do que os
legalistas.
Analisando-se o desempenho de imperiais e farrapos durante a Revolução
Farroupilha, é possível dizer que a grande vantagem das forças
legalistas estava na sua Marinha - que garantiu, durante todo o
período,
o livre trânsito pelo Guaíba e Lagoa dos Patos, até a barra
de Rio Grande.
Os farrapos, por sua vez, tinham a vantagem de contar com combatentes
ágeis
e capazes de realizar ataques de surpresa em terra, graças ao fato de
serem bons cavaleiros e de terem à sua disposição uma grande
quantidade de cavalos. Seria, aliás, a partir da percepção
da importância do uso dos cavalos na guerra travada nos pampas que
Caxias
iria garantir a vitória imperial: sua primeira providência ao chegar
na província, foi reunir grande quantidade de cavalos e destruir,
sempre
que possível, as cavalhadas inimigas.
A importância da Marinha Imperial revelou-se desde o início dos
combates. As forças legais só conseguiram manter Porto Alegre
livre dos farrapos porque podiam utilizar as vias navegáveis para
trazer
tropas, mantimentos e equipamentos. Foi também graças à
Marinha que Bento Manoel conseguiu aprisionar Bento Gonçalves na ilha
do Fanfa, em 4 de outubro de 1836.
A marinha farroupilha, por sua vez, foi organizada no final de 1835.
Dispunha
inicialmente de apenas quatro navios: o brigue Bento Gonçalves, o
palhabote
Vinte e Quatro de Outubro, a escuna Farroupilha e o patacho Vinte de
Setembro.
Mais tarde juntaram-se a esses a canhoneira Dois de Julho, que havia
sido tomada
dos imperiais, a escuna Rio-Grandense, o cúter Minuano e dois lanchões
que foram montados por Garibaldi com auxílio de John Griggs. Esses
dois
lanchões tinham o objetivo de realizar o corso: ataques rápidos
às propriedades imperiais para se apropriarem de gado, cavalos,
mantimentos
e equipamentos. Como eram pequenos, podiam ser facilmente
transportados pelos
bancos de areia existentes na Lagoa dos Patos e no Guaíba, fugindo
assim
dos navios legalistas.
Nos combates por terra, as forças envolvidas variaram. No início
de 1838, calcula-se que os farrapos contavam com pouco mais de seis
mil homens,
distribuídos da seguinte forma: em Viamão, comandados por Bento
Gonçalves, estavam de 1.500 a 1.600 homens, que assediavam Porto
Alegre.
Em Bagé estavam mais 400, comandados por Antonio Neto. Perto de
Piratini,
Domingos Crescêncio comandava outros 600. Mais 500 eram chefiados por
Bento Manoel e David Canabarro na região da Campanha. Além disto,
existiam vários grupos dispersos.
As forças legais, por sua vez, tinham também cerca de seis mil
homens (contando os da Marinha), concentrados em Porto Alegre, Rio
Grande, São
José do Norte e com alguns grupos esparsos na região da Serra.
No final de 1842, os imperiais já somavam oito mil homens.
As forças imperiais, aliás, foram crescendo progressivamente,
com contingentes sendo enviados do centro do país. Quando Caxias
iniciou
sua campanha, em 1842, dispunha de 12 mil soldados, bem municiados e
bem equipados.
Isto significava mais de metade da força militar total do Brasil,
calculada
em 21.968 soldados. Esse número espantoso mostra a superioridade
tática
dos farroupilhas, cujas forças, estima-se, eram, na época em que
Caxias chegou ao Rio Grande, de cerca de 3.500 homens.
Caxias tomou posse como presidente e comandante em chefe da província no
final de 1842. Nessa época os legalistas controlavam toda a orla
marítima
e toda a linha de navegação fluvial, desde a Lagoa Mirim até
as imediações da vila de Cachoeira, no rio Jacuí, e também
os pontos acessíveis aos navios de guerra nos rios Taquari, Caí
e dos Sinos. Na Campanha, contavam com alguns pontos de apoio, e
controlavam as
Missões. Os farrapos, por sua vez, tinham o controle da Campanha.
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