TIMOR LESTE: A REALIDADE E AS MENTIRAS DIFUNDIDAS PELA MÍDIA
31 de Março de 2001

 

As mentiras e ilusões alardeadas pela mídia:

FHC anuncia ajuda ao Timor Leste

Díli, Timor Leste - O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou hoje que o governo brasileiro vai ajudar o Timor Leste. Ele está considerando a possibilidade de ampliar a presença militar na região. Hoje existem cerca de 100 soldados brasileiros. De acordo com ele, este número seria ampliado com o envio de uma unidade hospitalar. Outro auxílio que ele considerou importante foi na área da segurança. “Uma segurança no sentido amplo, não somente contra as milícias, mas também na segurança do povo para ajudar a melhorar as condições de saúde da população”, declarou.

O presidente também disse que a ajuda ao Timor Leste pode ser estendida mesmo após a independência do país. Estas declarações foram feitas na saída de FHC do cemitério onde estão enterradas as vítimas do massacre de Santa Cruz. FHC, juntamente com a primeira-dama, Ruth Cardoso, depositaram flores no cruzeiro do Cemitério Santa Cruz.

Ele disse que esse cemitério é simbólico de todos que morreram lutando pela independência do Timor Leste. “Isso tem um significado de repúdio à violência e de demonstração da nossa política externa. Hoje temos a satisfação que o Timor começa a ter esperança. O país começa a se recompor e verificamos o quanto ainda há por fazer”, declarou. “Os brasileiros vão ajudar em tudo que for possível. O principal é o apoio de solidariedade humana e também apoio político”, concluiu.

Ele está neste momento almoçando com uma comitiva em um restaurante flutuante próximo de Díli, capital do país. A primeira-dama falou aos jornalistas sobre o pequeno acidente que teve em Bali, na Indonésia, e fez questão de dizer que está bem. Ela caiu ao sair de um quarto de hotel e torceu a mão. “Vejam meu braço, está tudo bem. Não apavorem meus familiares”, disse bem humorada retirando uma tala de imobilização e mostrando a mão.

Ela esteve visitando alguns projetos da Comunidade Solidária e informou que os brasilieros estão ensinando português e tetum- uma das línguas locais. Ela afirmou que é necessário o ensino deste idioma para que os timorenses possam ser alfabetizados. O curso começou há 45 dias.

FHC participa ainda hoje de uma sessão especial do Conselho Nacional de Reconstrução - uma espécie de Congresso provisório. Em seguida, ele encontra-se com D. Carlos Felipe Ximenes Belo, bispo de Díli, onde 90% da população é católica.

Fonte: Agência Estado - 22 de janeiro de 2001

 

 

A realidade, relatada por uma missionária:

A REALIDADE DO TIMOR LESTE

O presidente FHC visitou por algumas horas, em janeiro, o Timor Leste, administrado pela ONU, através da UNTAET. Este organismo para a administração transitória daquele país é presidido pelo diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello. O panorama timorense, visto debaixo da ponte (e não por cima, como nos passa a versão oficial), é bem diferente.

A.M. é brasileira, missionária leiga católica que, por iniciativa da  CNBB, encontra-se no Timor Leste, atuando junto à população. Seu relato da situação do país, enviado-me há dias, vale a pena ser conhecido:

"Toda a ajuda que vem de fora fica nas mãos da UNTAET. É uma mina de ouro. Técnicos, tropas, intelectuais e funcionários estrangeiros vêm fazer turismo na ilha, ganhando muito dinheiro. São um luxo os "palácios" da UNTAET, os hotéis, os restaurantes, enquanto o povo continua a morar em barracos e as crianças a dormirem amontoadas em esteiras.

"Em Laleia, onde vivo, desde pequeninas as crianças carregam água, lenha  e muito peso na cabeça. Alimentam-se basicamente de arroz, vivem doentes e não dispõem de medicamentos. A assistência médica é prestada por um "enfermeiro" da aldeia. As roupas doadas pelo Brasil e por outros países são vendidas nos mercados. Também os medicamentos são vendidos. Quase nada chega à população. O desemprego é geral.

"Aqui virou cabide de empregos para estrangeiros. A maioria trata os timorenses como "macacos". Na estrada, quando passa um carro da UNTAET, os verdadeiros donos da terra, os timorenses são obrigados a dar passagem. São os "faraós", arrogantes e autoritários. Não vêm para servir. Vêm para mandar e ser servidos. Começa a despontar a prostituição, é claro! Eles têm os dólares. O povo passa fome.

"Em Dili, os meninos de rua começam a ficar rebeldes, a roubar, a formar "gangs". Enquanto gastam-se milhões com os "intrusos", o povo não tem escolas, hospitais, empregos. O país continua em ruínas.

"Por trás de tudo, sempre a supremacia político-econômica da "globalização", que não tem nenhum interesse em pequenos países livres e independentes. A África e a Ásia foram repartidas entre os grandes.

"Em frente aos palácios da UNTAET há centenas de carros com som e ar condicionado, parados, à disposição dos mandões. Em Laleia, não há luz, nem água, nem transporte. Viajamos em "bis" e "microlés" abarrotados de gente, em cima e embaixo, nas portas, nas laterais, entre galos, porcos, cabritos, sacos de arroz e vômito, e calor sufocante.

"Ensino às minhas crianças noções básicas de higiene e cuidados pessoais. Mas elas lavam roupa, tomam banho e bebem a água contaminada da Ribeira, enquanto a tropa gasta fortunas com água mineral e alimentos importados. E ainda os soldados são considerados "heróis" pelo mundo, porque vieram "arriscar" a vida no Timor. Quem corre risco de vida são as nossas crianças.

"Outro dia um carro da UNTAET atropelou e matou o pequeno Eugênio, um menino de três anos, aqui em Laleia. Nem parou para dar assistência. Jamais será denunciado. Era um funcionário da UNTAET. Que diferença faz para eles atropelar e matar uma galinha ou uma criança timorense? Passam em alta velocidade pelas estradas que cortam as aldeias, onde as crianças caminham com água ou lenha na cabeça.

"Quando morre um adulto, colocam uma bandeirinha preta no lugar onde foi atropelado. Quando é criança, uma bandeirinha branca. Outro dia, em viagem, contei mais de 20 bandeirinhas, pretas e brancas.

"A minha voz não tem importância, a não ser quando faz eco da voz deste povo pequenino, paciente e corajoso, que ousou lutar e vencer. Não podemos permitir que lhe usurpem a vitória, conquistada a preço do sangue de seus filhos. Lutaram por mais de 20 anos, corajosamente. Resistiram a todo tipo de atrocidade.

"Agora que venceram, não são aptos para administrar o seu país? Isso é piada! Quando estavam sendo massacrados, ninguém achou que precisavam de ajuda. Todos se omitiram. Agora vem muita ajuda de fora. Fazem crer ao mundo que são nobres e servidores, a serviço da paz e da reconstrução do país. Mentirosos! Mudaram os dominadores e a forma de opressão. Agora é camuflada. Antes era a Indonésia. Agora é uma legião."

A 5 de dezembro, em Bruxelas, Xanana Gusmão, presidente do CNRT (Conselho Nacional da Resistência Timorense), cobrou do embaixador Vieira de Mello, da Comissão Européia e do Banco Mundial, presentes à Conferência de Apoio ao Timor Leste, a lenta e exígua ajuda econômica ao país e o demorado processo de "timorização" das estruturas de governo. Segundo Xanana, "não chega a haver 5 timorenses no Gabinete de Transição, e mesmo estes não têm acesso aos recursos humanos, materiais e financeiros para realizarem as tarefas para as quais foram indigitados".

Fonte: I Informativo REDE de Cristãos 19/2/2001