A
ERVA MATE
A
verdadeira erva-mate é a Ilex paraguaiensis, St. Hil, família
das Aquifoliáceas. Os contornos da árvore lembram
os ciprestes, embora suas folhas muito se assemelhem às da
laranjeira. Em pleno desenvolvimento, a erveira mede de seis a oito
metros de altura. Tronco erecto, com ramos alternos e divergentes
em grande profusão; folhas persistentes, tamanho médio
9x4cms., alternas, coriáceas, verde-escuras na face ventral
e verde-claras na dorsal, obovais, estreitadas na base e apiculadas
no vértice, com nervuras salientes e o limbo despido de pelos;
o pecíolo mede pouco mais de 1cm. de comprimento por 2cm.
de largura; flores pequenas, alvadias, que se desenvolvem em feixes
nas axilas das folhas, com quatro pétalas e igual número
de sépalas e estames; frutos avermelhados, contendo quatro
sementes. A erva-mate é planta nativa das matas
sul-americanas, estendendo-se desde Boaira, na República
Oriental do Uruguai, até Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia,
compreendendo porções de terra do Brasil, Argentina,
Paraguai, e, em pequena escala, do Perú, Equador e Colômbia.
No Brasil, a sua área de distribuição geográfica
poderá ser delimitada, no Rio Grande do Sul, por urna linha
que siga, rumo NO-SE, do Nhucorá. no rio Uruguai, até
a Serra-do-Erval; pela mencionada serra e por uma linha que, infletindo,
tome o rumo N, até Marcelino Ramos; em Santa Catarina, por
uma linha que siga de Marcelino Ramos, rumo N, até Campo
Alegre; no Paraná, por uma linha que siga de Campo Alegre,
rumo N, até Campo-Grande; daí rumo NO, até
Piraí; desse ponto, no mesmo rumo, pela vertente ocidental
da Serra-do-Apuçaranã e pela parte sul do Mato-Grosso,
até o rio Paraná, abrangendo os municípios
matogrossenses de Maracaju, Iguatemi, Ponta-Porã e Dourados;
e, finalmente, a O, pelos rios Paraná e Uruguai abaixo, até
Nhucorá. Cinco são os Estados produtores
de mate em nosso país: Paraná, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Mato Grosso e, em mínima escala São
Paulo. O processo natural de multiplicação
da árvore do mate consiste na transportação
das sementes por pássaros, até as terras propícias
à sua germinação, geralmente humosas e abundantes
de vegetação, com sub-solo de terra vermelha permeável,
e expostas a um clima quente. Estas condições apontadas,
propícias ao perfeito desenvolvimento da llex paraguaiensis,
são maravilhosamente satisfeitas na chamada região
das araucárias; ou seja, nas matas de pinheiros. Dizem,
mesmo, os estudiosos, que há uma espécie de simbiose
vegetativa entre o mate e o pinheiro. Explica-se assim a grande
concentração de ervais no Paraná, onde ocupa,
aliás, uma extensão de 4/5 de toda a sua superfície
territorial. Mas hoje os ervais silvestres já não
constituem a única fonte de produção de erva-mate.
Tal qual acontecera nas Missões Jesuíticas e na Argentina,
procederam os nossos ervateiros à cultura do mate, principalmente
no Rio Grande do Sul, onde o produto dos ervais nativos não
podia corresponder às exigências do consumo local.
Depois de muitas tentativas infrutíferas, e após
muita incompreensão por parte dos ervateiros, que julgavam
inúteis estas tentativas, em vista da maldição
dos jesuítas, a cultura do mate triunfou em nosso país.
O processo empregado na plantação das erveiras - embora
nem sempre se obtenha um resultado satisfatório - fica longe
das complicações supostas pelos antigos.
Um dos métodos mais empregados é o seguinte:
As sementes maduras, colhidas nos meses de março abril, são
trituradas num almofariz comum ou por meio de compressão
de garrafa. Da trituração resulta uma mistura de sementes,
cascas e polpas mucilaginosas. Lavando-se esta mistura em água
corrente, as cascas vêm à tona e a polpa é carregada
pela águas, conseguindo-se, assim, separar as sementes, as
quais, distribuídas em canteiros de terra vegetal, são
comprimidas e cobertas por serragem e uma pequena camada de terra,
também vegetal. Deste modo a planta é resguardada
até apresentar 4 a 5 folhas; até então, deve-se
dispensar o mais cuidadoso tratamento à erveira, irrigando-a
diariamente e livrando-a das ervas estranhas que porventura medrem
no canteiro. Depois a planta será levada a um viveiro e,
quando chegar a época propícia - de setembro a junho,
preferindo-se o mês de maio - será transplantada definitivamente
para um terreno elevado e úmido. Devem as mudas guardar uma
distância de cinco metros entre si, ocupando uma média
de quatrocentos pés por hectare. E competirá
à natureza concluir a obra iniciada.
Trecho extraído
do livro "História do Chimarrão", de Barbosa
Lessa.
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