A
MULHER E O CHIMARRÃO
Se o amigo anda escolhendo noiva, bote sentido nas
palavras deste índio calejado pela vida. Antes de
mais nada, se alembre que casamento é que nem mate servido
pra visita de cerimônia: a gente tem de acompanhar e agüentar
até o fim, mesmo depois de enfarado. É por
isso que a escolha tem de ser feita com todo o tino. Moça
mui novinha não serve: é mate com cachaça -
embebeda ou estraga do estômago. Moça mui
cheia de inteligências - é mate com bomba nova: a gente
custa a acertar a embocadura, e às vezes não acerta
nunca. Moça loira - mate de erva fraca: em seguida
perde o gosto. Moça de olho parado - mate frio;
e tereré não resolve. Moça desfrutável
- é o primeiro mate; chupe o mais que possa, companheiro,
e cuspa fora, que os pintos aproveitam logo. Moça
criada muito solta - é mate de roda mui grande: quando chega
a nossa vez a erva já está lavada. Mas, por
outro lado, moça criada muito presa - é mate quente
e entupido: quando desentope é um deus-nos-acuda, sai pelando
os beiços! De moça rechonchudinha eu meu
agrado: é mate com cancorosa, bom pra o sangue que é
barbaridade! Tome tenência com moça bem morena
e de olho reluzento: é mate enchido pela bomba, com água
de pelar porco. Erva de sustância, seu!! Viúva
nova e linda - é mate recém virado. Precisa água
bem quente. E sae com uma força! Viúva nova,
linda e rica - é mate com bolo frito. Pra o descanso não
há coisa melhor! Mas meu conselho aí vai:
ceve o mate da felicidade com uma chinoca recatada e dona de si
- é mate com sabugueirinho-do-campo: bom pra tudo!.
E pra terminar a charla, aqui vão algumas comparações:
Moça nova e forte que casa com velho - O mate pra o
estribo. Viaja em seguida. Mulher casada que faz coisa
feita - Mate que um ceva e outra toma. Mulher solteira
que chega aos 34 anos ainda esperando noivo - É o mate de
João Cardoso. E depois dos 34, só com muito
jeitinho se escapa de virar mate entupido.
Trecho extraído do
livro "História do Chimarrão", de Barbosa
Lessa.
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