A
POESIA POPULAR
A
poesia popular gauchesca é representada pelas décimas
e pelas quadrinhas. Enquanto as décimas nos contam longas
histórias de amor ou aventuras, as quadrinhas se limitam
a estrofes independentes, às vezes de sentido pobre, mas
outras vezes apresentando interessantes criações da
filosofia popular. Essas quadrinhas, em sua maioria, são
originárias das antigas danças com recitativos, de
um modo especial o pericom e posteriormente a polca de relação,
cuja principal característica residia no fato da música
parar, freqüentemente, para que os pares se trocassem versinhos.
As danças desapareceram, com os novos tempos, mas permaneceram
muito de seus versos,, ora recitados pelas senhoras de idade, em
forma de adágio - ao darem conselhos às suas filhas
ou netas -, ora cantadas pelos trovadores, nas reuniões da
gauchada. As quadrinhas, quando cantadas constituem os chamados
versos decorados, para diferenciá-las dos versos de improviso,
que constituem a principal forma de trova campeira, no Rio Grande.
Aliás, um cantador que se preza nunca apelará
aos versos decorados. Prefere demonstrar suas aptidões
fazendo rimas que lhe brotam espontaneamente; e, na realidade, muitas
vezes essas trovas (geralmente entre dois improvisadores, constituindo
o desafio ou porfia) nos apresentam maravilhosas embora rudes
jóias poéticas. Por ocasião dessas
cantigas de improviso, as tiradas mais interessantes recebem calorosos
aplausos do auditório; e nunca falta, entre os presentes,
um gaúcho de boa memória. também cantador,
que irá repetir, em outra festa, os versos maia aplaudidos.
Novas palmas... mais repetições... e eis como se vai
enriquecendo o folclore campeiro. Em pouco tempo aquele verso lindo
que o Juca Polvadeira improvisara no baile do seu Justiniano -
de tão cantado e aplaudido - se tomou um verso decorado.
Freqüentemente encontramos, nas quadrinhas populares,
frases que não mantêm correlação alguma
com o sentido principal da poesia. É que, para o gaúcho,
só interessam os dois últimos versos da quadra. E
é ele mesmo quem nos diz isso, ao nos ensinar, cantando,
como é que se faz versos:
Bote uma linha no
começo. Mais outra, prá dar a rima.
E depois duas, que nada Têm a ver com as de
cima.
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Enfim - recitadas ou contadas -
as quadrinhas constituem a principal expressão da poesia
popular, no Rio Grande. Assim sendo, é natural que muitas
delas nos falem do mate amargo...
Trecho extraído do
livro "História do Chimarrão", de Barbosa
Lessa.
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