O MATE E O AMOR


Menina dos olhos verdes
Me dá mate pra beber,
Não é sede, não é nada,
É vontade de te ver.


Tenho meu cavalo zaino,
Vermelho, cor de pinhão;
Fui à casa da morena,
Nem me deu um chimarrão


Cuia de prata lavrada,
Bomba de prata de lei;
É de prata e tem lavores
Certo amor que só eu sei.


Não tenho mancha nem medo
Não tenho inverno ou verão:
Meu culto é o das raparigas
E do mate chimarrão.


Da pinha nasce o pinhão,
Do pinheiro nasce a pinha,
Nasce mate nas roçadas,
Nasce amor no coração.


Menina dos olhos pretos,
Sobrancelhas de retrós.
Dá um pulo na cozinha,
Vai esquentar mate pra nós.


Eu venho de lá, tão longe.
Noite velha adiantada;
Me dá um mate chimarrão,
Minha linda misturada!


Amor queima como fogo,
Mas quando queima é que é amor;
Erva sem ser bem queimada
Não tem cheiro nem sabor.



QUALIDADES DO MATE

Se a doença for na barriga,
Tome mate de congonha;
Infalível é o remédio
Contra a falta de vergonha.


Dizem que o mate afoga
As mágoas do coração;
Mate sobre mate eu tomo,
As mágoas boiando vão...


Quem quiser que eu cante bem
Me dê um mate de congonba,
Para limpar este peito
Que está cheio de vergonha.



OUTRAS QUADRINHAS GAUCHESCAS

Dos campos do meu Rio Grande,
Muito eu quero e até demais:
Lá como dos meus rodeios
E bebo dos meus ervais.


Senhora dona de casa,
Me dê um mate chimarrão,
Com quatro pedras de açúcar
E queijo e bastante pão.


Notamos aqui um absurdo: mate chimarrão com quatro pedras de açúcar. Talvez esta quadrinha (registrada por J. Simões Lopes Neto à pg. 105 de seu “Cancioneiro Guasca) seja urna variante da seguinte, muito popular no Rio Grande do Sul:

Senhora dona da casa,
Eu sou muito pedinchão
Mande me dar de beber,
Mas que seja um chimarrão.

Do meu canto eu estou vendo
Quantos mates vais tomando,
Quando chegar a minha vez
Os pausinhos estão nadando

Eu não sou filho daqui,
Sou filho de Jaguarão;
Ensilho cavalo gordo,
Tomo mate chimarrão.

Rita se chama Ritoca,
Sebastião chamam Tatão,
Cavalo bom - pingo lindo,
Mate amargo - chimarrão.

 

Trecho extraído do livro "História do Chimarrão", de Barbosa Lessa.

Cortesia: RSVirtual